Eu vejo a Copa do Mundo desde 1970, quando começaram pelo menos no Brasil as transmissões das partidas pela televisão em tempo real. Antes, claro, eu ouvia pelo radinho, cujas transmissões eram cheias de chiados. Não me recordo de uma primeira rodada deste torneio maior do futebol com tantas partidas boas – algumas mais que outras, como as de Holanda e Espanha e Itália e Inglaterra, a primeira pela movimentação, número de gols e a esculhambada em uma Campeã Mundial e a segunda porque foi equilibrada, de grande nível técnico e o justo seria um empate, se os ingleses não ficassem cansados. Mas justiça é uma palavra que nem sempre aparece no futebol.
Para quem gosta de estatística, já existem algumas chances para usar a expressão “nunca na história das copas…”. Nunca a Colômbia ganhou por mais de três gols, nunca uma campeã mundial levou uma esculachada tão grande, nunca depois de 1962 o Chile fez mais de três gols e nunca ninguém rebolou tanto numa comemoração quanto Pablo Armero no Mineirão. Aliás, o lateral esquerdo da Colômbia que jogou no Palmeiras, já é uma das figuras desta primeira rodada, que ainda tem mais jogos. Ou seja, muita coisa pode acontecer. Armero entra na categoria performance coreográfica na comemoração de gol – aperfeiçoamento do que ele fez em uma partida entre Santos e Palmeiras, vencida pelo alviverde na Vila Belmiro.
No jogo da Colômbia deu gosto de ver o Mineirão com dezenas de milhares de colombianos como estivessem em sua própria casa – na realidade, eles estavam em casa, pois somos todos latino-americanos. Valdivia é outro que disse se sentir em casa e estava feliz porque o Chile ganhou, ele marcou gol e embora não seja a estrela do time é o que mais chama a atenção da torcida brasileira. Para quem prefere o desempenho técnico, deu gosto de ver Pirlo comandar a Itália, embora Sterling, de 19 anos, fizesse uma grande partida pelo lado inglês. Para quem gosta da famosa expressão David x Golias, quando tudo parecia encaminhar para uma vitória tranquila do Uruguai, a Costa Rica de Campbell & Cia aplica a maior surpresa da primeira rodada e deixa os uruguaios atônitos com os seus 3 a 1.
Até o jogo de ontem entre Suíça e Equador que caminhava para ser o mais chato, de repente o bicho pegou e o final foi cheio de emoções, com direito a virada. Claro que nem tudo é perfeito. E se for para reclamar, a reclamação cai sobre os juízes que anulam gols legítimos. Foram anulados três na partida entre México e Camarões, os dois mexicanos injustamente. Assim como um dos gols da Suíça ontem contra o Equador. Os gols estão saindo em profusão, alguns bonitos, como o de Honda do Japão contra Costa do Marfim. Mas o mais bonito continua o do empate da Holanda, marcado por Robin van Persie, que mergulhou depois de um lançamento de Arjen Robben e encobriu Casillas. E as torcidas dão um show à parte. Seja no Brasil, colorindo os estádios ou em seus países.
A vantagem para quem não veio ver a Copa no Brasil é poder comemorar do jeito que bem entende sem ninguém censurar. A atriz pornô chilena Marlen Doll prometeu a seus seguidores pelo twitter uma maratona de oito horas de sexo em caso de vitória da seleção nacional na estreia. Como o Chile passou pela Austrália por 3 a 1, Marlen ficou tão animada que em vez de cair fora, deu um reajuste 50 por cento na promessa: “Estou indo para Viña del Mar para 12 horas de sexo”. E divulgou na internet seu telefone para os interessados em participar da orgia sexo-esportiva, que teve início logo depois da partida. É impressionante como o futebol estimula as pessoas! E a Copa está apenas na primeira rodada, que nem terminou – tem duas partidas hoje e mais duas amanhã. Se os jogos continuarem com alto nível, quando a Copa terminar, o problema vai ser se acostumar com o arroz-com-feijão e farinha do Campeonato Brasileiro. Com todo respeito aos nossos times, vai ser deprimente. Acho que até os estádios vão sentir falta de um bom futebol.