Para onde foram os gols de Edgard Belisário?

O atacante que eu mais vi fazer gols no estádio foi um meia-ponta-de-lança chamado Edgard Belisário, que jogou no Nacional Atlético Clube de São Paulo, passou pela Esportiva de Jacarezinho e no Grêmio de Maringá adquiriu a dimensão de ídolo. Edgard era letal. Marcava gol de tudo que era jeito. Quando avançava em direção à meta adversária tinha um estilo curioso: parecia que mancava, mas quando batia na bola, arrematava com precisão. Eu tinha doze anos e me lembro de Edgard na temporada de 1964. Ele foi considerado pelo número de gols o vice-artilheiro do Brasil. O primeiro era Pelé. Claro que no caso do Santos contava o número de gols marcados no Campeonato Paulista, Rio-São Paulo e torneios internacionais e amistosos.

O Grêmio de Maringá tinha apenas o campeonato paranaense. E fazia poucos amistosos. Claro que ajudou Edgard a aumentar seu índice o fato de o Grêmio encontrar pela frente alguns adversários fracos. Escrevo isto porque conferi as estatísticas sobre artilheiros paranaenses em 1964 no Wikipédia, que é a página na internet embora nem sempre confiável, mas com o maior volume de informações sobre o Campeonato Paranaense desde o início até hoje. E lá está que os artilheiros da temporada de 1964 foram Grilo do Água Verde e Quarentinha do Seleto, cada um com 16 gols. Sim, eles foram artilheiros da Região Sul. Eram também jogadores letais e bons. E o que aconteceu com os gols da região Norte? Na temporada, o ataque do bicampeão paranaense, que foi o Grêmio Maringá, marcou 58 gols nos dois turnos regionais – 29 no primeiro e 29 no segundo. Mais seis gols na decisão do título regional, num total de 64 gols. Sem contar os do triangular decisivo que ficou para o começo de 1965.

Não entro no mérito de quem é melhor ou não. Eu me refiro a número de gols. Edgard era a principal referência do ataque do Galo e marcava gol adoidado. Uma publicação dá de barato que fez 33 em partidas oficiais na temporada. Corre o risco, claro de Gauchinho do Londrina ou Leocádio, terem feito mais. Porque eram bons atacantes. De qualquer forma, acredito que Edgard fez mais que os 16 gols anotados pelo Wikipédia para Quarentinha e Grillo. Sozinho não ia levantar esta lebre. Quem me chamou a atenção foi o Sr. José Martins Manso, também conhecido por Paquito e que foi por três vezes artilheiro do Campeonato Paranaense. Quando eu perguntei a ele se foi artilheiro pela primeira vez em 1965 com a camisa do União Bandeirantes com 13 gols, ele respondeu: “Eu acho que fiz mais. É que muitos gols acabaram não computados”.

Aquilo me deixou encafifado. Então me lembrei de Edgard Belisário. Era uma época que eu ia todos os domingos ao estádio Willie Davids. No dia 7 de junho o Grêmio goleou o Bela Vista por 7 a 0, no dia 2 de agosto venceu o Jandaia por 6 a 2 e no dia 18 de outubro sapecou uma goleada de 11 a 1 no Astorga. E no final da temporada se o artilheiro do time fez no mínimo 30 por cento dos gols, teria feito pelo menos 20 gols. Ele fez mais. Eu falei com um amigo que atua há tempo na crônica esportiva e ele respondeu: “É possível que não haja mais registros destes jogos na Federação Paranaense de Futebol (FPF) e assim teria que ser feito um levantamento com jornais da época no Norte do Paraná para avaliar o que aconteceu”.

Mas eu desconfio que aconteceu o seguinte: quando o campeonato paranaense era disputado em regiões, a FPF tinha subsede em Apucarana que deixou de existir quando o campeonato foi reunificado. E provavelmente os papéis que estavam por lá, como súmulas e registros foram queimados. Não vejo outra explicação. Mas se ela aparecer vai ser melhor, claro. Vou achar bacana que este mistério, se é que existe, fique esclarecido. Egard Belisário encerrou a carreira de jogador de futebol em Maringá e depois mudou-se para Ponta Grossa, onde hoje é diretor de uma indústria química. O ex-atacante que nasceu em Campinas estaria hoje com 75 anos.  Ainda é reverenciado em Maringá como um dos maiores jogadores do Galo do Norte e tido na categoria de um dos maiores at,acantes do futebol paranaense.