O fotógrafo americano Seph Lawless – é pseudônimo para evitar problemas com os serviços de segurança nacional dos Estados Unidos – publicou um livro chamado Black Friday, com imagens assustadoras de shoppings centers abandonados em seu país. O livro causou impacto e acendeu uma luz de alerta no Brasil, onde este negócio de abrir shoppings centers em tudo que é lugar ainda está em alta. Mas também com resultados preocupantes. Nos Estados Unidos, 15 por cento dos shoppings centers vão falir ou serão transformados em outros espaços comerciais nos próximos dez anos. Os mais afetados serão os que não possuem grandes lojas de departamentos como âncoras. Ou seja, os shoppings são um modelo que está mostrando sinais de esgotamento.

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Destes 15 por cento condenados, os que não forem transformados em outros espaços, correm o risco de se transformarem em ruínas. No Brasil o quadro é o seguinte: pesquisa do Ibope aponta que os 36 empreendimentos inaugurados no ano passado abriram em média com metade das lojas fechadas por falta de locatários. A entidade nacional dos shoppings centers informou que o Brasil tem atualmente 500 centros comerciais deste tipo e até o fim do ano mais 30 vão entrar em ação, a maioria fora das grandes capitais. No Brasil o problema da falta de locatários, segundo a entidade, deve-se ao fato de alguns shoppings serem abertos em área sem demanda para preencher a capacidade. E, também, porque o ritmo de crescimento do varejo não acompanhou o ritmo do avanço dos shoppings centers.

Pelos dois parágrafos acima se deduz que os shoppings centers também morrem e que o Brasil, aparentemente, está atingindo o seu teto de unidades para a atual demanda. Quadro que pode mudar para melhor ou para pior de acordo com a evolução do poder de compra do brasileiro. Foi o que eu entendi. No entanto, quando eu vi as imagens de Lawless eu confesso que fiquei chocado. Acostumado a entrar em shoppings e ver tudo bacana, até os sanitários são limpos, coisa rara no Brasil onde os espaços públicos com banheiros exibem um estado lamentável, principalmente as estações rodoviárias, por isso fiquei perplexo. Assim como ficaria se alguém me dissesse quando criança que um dia não iria mais existir cinemas com o formato de grandes teatros de rua, diante dos quais eu e meus amigos fazíamos filas enormes para ver um filme novo.

Eu sou do tempo em que a gente comprava alimentos em armazéns com dezenas de balconistas. Casas Moreiras, Alô Brasil, Casas Veríssimo e muitas outras na minha infância. Os bazares vendiam produtos para costureiras, havia lojas de brinquedos e as lojas de ferramentas. E carne era no açougue. Pão na padaria. Sapatos se compravam nas lojas de sapatos. E tinha as chapelarias. Lanches nas lanchonetes. Era tudo definido. As coisas começaram a se juntar anos depois, quando comecei a ficar adolescente e vieram estas maravilhas do consumo chamadas supermercados. A gente não dependia mais de balconista: podia pegar na prateleira, botar no carrinho, sem ninguém para olhar e reclamar e, depois, pagar no caixa, sem demora. E não precisava bater pernas por três ou quatro lojas para comprar vários produtos. Estava tudo ali. Que maravilha!

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Até que na metade dos anos 70 começaram a aparecer os shoppings centers. Eles simplesmente sugaram tudo o que havia nos antigos centros das cidades: cinemas, óticas, livrarias, boutiques, lojas de perfumes, farmácias, lojas de calçados, tudo o que havia de melhor foi parar num shopping center, que ainda tinha como âncoras, grandes lojas. Andar nas ruas das cidades para fazer compras passou a ser, em muitos casos, coisa do passado. E agora fico sabendo que os shoppings americanos estão morrendo. A minha preocupação é com o novo modelo: se os shoppings centers entrarem em colapso, o que virá depois? A volta das lojas de rua? Eu não tenho a menor ideia. Mas pelas fotos de Lawless eu sei: os shoppings centers também morrem. Até os mais bonitos. Que coisa!