“Os nossos eletromagnetos ainda não foram magnetizados”

Na tarde de ontem fui levar dois quadros na molduraria do Brixi na Rua Paula Gomes. E depois que saí encontrei na esquina um sujeito. Ele disse que queria falar comigo a respeito de um assunto transcendental. Era um sujeito careca e com luvas pretas com furos para as pontas dos dedos ficarem de fora. Ele estava com uma pasta cheia de recortes de velhos jornais. Ele disse que se chamava Hector Bustos Navarrete, um discípulo do professor James Anderson, que nos anos 30 praticava a astrologia científica. Pelo que entendi, o cara era astrólogo. Ele queria falar sobre eletricidade periférica temporal. Perguntou se eu conhecia o assunto. Nunca ouvi falar na coisa. Mas os sucessivos reajustes da conta de energia elétrica colocam a eletricidade em evidência. Não se pode deixar um tema assim sem mais nem menos. E disse a ele para falar sobre o negócio que eu era todo ouvidos.

Navarrete abriu os braços quase derrubando uma velhinha que passeava na calçada com um Chow-Chow. Ele pediu desculpas. Depois tomou fôlego e disse: “Tudo isto é culpa da eletricidade. A eletricidade está ao redor de todas as pessoas na atmosfera em estado latente, sutil, ondulátóro e imperceptível. Só que neste estado o seu uso é inútil”. Eu não entendi nada, mas continuei a prestar atenção: “Por isso nós precisamos possuir magnetismo pessoal em primeiro lugar, antes que possamos converter a eletricidade que nos rodeia em algo útil. Os nossos eletromagnetos devem ser magnetizados”. Eu nunca pensei no assunto. Fazia sentido, mas continuava sem entender. Navarrete explicou: “Claro que tudo isto depende do grau e quantidade de magnetismo cósmico que cada um possui”.

Parece que fazia sentido. “Todas as plantas, os animais e o homem são apenas minerais transformados, portadores de energia cósmica. E quando os homens se alimentam recebem forças magnéticas do cosmos que estão nas plantas e nos alimentos”, disse peremptório. Navarrete ficou um minuto em silêncio. Depois fez menção de abrir a pasta e perguntou se eu queria ver suas publicações em jornais. Era mais fácil ouvi-lo do que ler aquilo. Ele continuou: “O grande ocultista Max Heidell sabia tudo isto. Ele declarou que a eletricidade ao nosso redor é de alto teor e ainda não foi observada pela ciência oficial. Esta eletricidade poderia ser útil no tratamento das enfermidades. Por isso o fracasso frequente do uso da eletricidade no tratamento das doenças. Os nossos eletromagnetos ainda não foram magnetizados. O senhor entendeu?”, indagou. Eu disse que entendi porque achei mais conveniente. Ele deu um sorriso satisfeito e foi embora.