Eu tive um sonho rápido na noite passada. Estava num sebo e peguei um livro cujo título era “Os farsantes na cozinha”. Era um livro dos anos 30 e 40 do século passado, cuja capa tinha desenhos com estilo que poderia se chamar vagamente de cubismo tropical, em que predominavam as cores vermelha, verde, amarela e preta. O livro era sobre homens que vão para a cozinha fazer pratos diferentes. Ou seja, a mania de pessoas que habitualmente não cozinham de ir para a cozinha. Este sempre foi território secularmente feminino, pelo menos no imaginário ocidental. Os que entravam lá para cozinhar eventualmente seriam os farsantes. Hoje em dia a fronteira entre feminino e masculino na cozinha se rompeu, como se observa nos restaurantes, embora eu presuma que nas casas de família, a comida ainda seja tarefa melhor e mais desenvolvida pelas mulheres. Claro que muitos homens, como o título do livro acima indique, a desempenhe.

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Quando eu tenho estes sonhos e acordo assustado, eu anoto numa caderneta ao lado do criado-mudo e volto a dormir, porque de muitos sonhos não me lembro na manhã seguinte. Na manhã seguinte, quando vi aquilo anotado eu me lembrei do sonho. Se não o anotasse, nem lembraria. Então fui procurar na internet. Esta a vantagem da internet: naquele caos medonho encontra-se quase tudo. Ao ponto de dizer se não está lá, a chance de não existir é muito grande. Não. Não havia nenhum título de livro chamado “Os farsantes na cozinha”. Não foi nada que ficou no fundo da memória. Fui procurar alguma coisa sobre cozinha e seus farsantes e descobri que a espécie humana começou a cozinhar há um milhão e 900 mil anos para digerir melhor os alimentos com suas proteínas e vitaminas, garantindo consumo de mais calorias, em menos tempo e com mais nutrientes.

Estas mudanças teriam dado vantagens na corrida evolucionária aos Homo erectus, Neandertais e Homo sapiens sobre os chipanzés. Hoje se sabe que os ocidentais preferem alimentos quimicamente próximos, enquanto os orientais preferem alimentos quimicamente opostos. Uma parte do planeta prefere sabor molecular homogêneo e outra não. O cientista Yong-Yeol Ahn, da Universidade de Bloomington, Indiana, não soube explicar porque isto acontece. Assim como não sei explicar a origem de meu sonho. São os mistérios da cozinha e dos sonhos que nos pregam surpresas. Umas boas. Outras nem tanto.

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