Os brasileiros que os estrangeiros descobriram

Um legado que a Copa pode deixar depois que terminar, claro, porque eu ainda acho prematuro fazer avaliações, é a mudança da imagem do brasileiro no exterior. A grande mídia movida por interesses de ordem política fez estardalhaço tão grande antes da Copa que a imagem do brasileiro no exterior que não era boa, ficou pior. No entanto, o contato de estrangeiros com os brasileiros, provocado pela Copa, com a vinda de milhares de turistas de todas as partes do mundo, pode contribuir não para provocar uma revolução, mas para mostrar que no fundo a gente é bacana. E isto pode ser constatado por comentários de estrangeiros que chegaram aqui e ficaram surpresos. Claro que os brasileiros têm defeitos e todos os povos os têm. Mas o brasileiro também tem qualidades que parecem ignoradas.

Eu li uma matéria da Zero Hora sobre coisas bacanas dos brasileiros que encantaram os estrangeiros. As festas no Brasil são mais divertidas que na Inglaterra, por exemplo. O brasileiro é de modo geral alegre e encara problemas com bom humor. Os estrangeiros se surpreenderam com nosso hábito de abraçar. Um estudante chinês disse que na China ninguém abraça ou aperta a mão. Chinês é duro que nem mata-junta. Mas Liu Da gostou de abraçar e ser abraçado. Um italiano ficou perplexo quando no supermercado a caixa perguntou: “O senhor encontrou tudo o que procurava?”. Ele disse que foi uma das frases que mais gostou de ouvir na vida.

O atendimento no comércio no Brasil embora pontualmente desagrade fulano ou sicrano, não se compara com o atendimento em muitos outros países onde a relação entre cliente e comerciante é na melhor das hipóteses formal e em muitos casos marcada por grosserias. Até o jeitinho brasileiro que nos rende críticas, é visto de outra forma pelos estrangeiros. O sul-africano Werner Trieloff disse que “os brasileiros sempre acreditam que há um caminho para se fazer alguma coisa e isso os leva adiante”, enquanto o espanhol vê nesse traço de nossa personalidade fator para se estressar menos. “Os brasileiros ficam mais tranquilos quando uma coisa dá errada”, diz a espanhola Ana González.

O filósofo americano Allan Taylor atribui ao jeitinho brasileiro o sucesso nosso no exterior. “A improvisação é a grande arte do brasileiro”, diz ele. Outro hábito que o estrangeiro não tem: compartilhar bebida, desde cachaça, ao chimarrão. Os estrangeiros viram nisso demonstração de solidariedade, um golpe na mesquinhez. “O guatemalteco gruda no copo até beber tudo”, diz Martin de Leon, que achou bacana o costume, também elogiado pela francesa Mathilde le Tourneur. Os estrangeiros ficaram impressionados com nossos hábitos de higiene, a mania por exercícios, o costume de dar carona, o nosso almoço ao meio-dia em vez de refeição cavalar à noite e assim por diante.

Enfim, temos um patrimônio de comportamento ignorado e que deslumbra o estrangeiro. A alemã Katharina Ockert não desconhece a existência de pobreza e criminalidade no Brasil, mas enaltece os vários costumes brasileiros e principalmente como tratamos bem os estrangeiros. Ela diz que o brasileiro sempre está disposto a ajudar alguém. A mesma coisa diz a francesa Clémentine: “As pessoas sempre me dão informações com um sorriso no rosto”. Antes de ler esta reportagem eu tinha lido outra que achei interessante: os ingleses que foram ver Itália e Inglaterra em Manaus adoraram a nossa cerveja. Assim como os alemães que foram ver a sua seleção jogar contra Gana em Fortaleza. Uma alemã ao ser estimulada a comparar nossa cerveja com a alemã saiu com esta avaliação: “A cerveja brasileira é maravilhosa. A alemã é mais densa e feita para um clima mais frio. A brasileira mais suave, feita para um clima mais ameno. Eu adorei a cerveja brasileira porque ela é suave e a gente pode beber mais sem ficar bêbado”. A lição que tirei destas declarações é simples: temos qualidades e defeitos, como todos os povos. Mas não podemos nos esquecer das primeiras. Assim fica insuportável.