Orwille tinha vocação para coronel, mas virou comedor de rosquinhas

O garoto tinha um nome estranho no meio daqueles José, João e Antonio da segunda série do Grupo Escolar Osvaldo Cruz. O nome era Orwille Mobile. Era um nome diferente e o cara era diferente de todo mundo porque tocava acordeão e as meninas achavam que ele era muito bacana. Não tocava bem, mas tocava e agradava. Um dia os pais do garoto e a professora Leozina chamaram o maestro Edmundo Feijó, um especialista, para avaliar as qualidades musicais de Orwille, para saber se ele tinha vocação para ser um grande músico.

O maestro ouviu e ao final da audição ele disse: “O guri tem vocação para coronel”. Ninguém entendeu nada. E também não levou a sério a avaliação do regente Feijó. O tempo passou e Orwille esqueceu o acordeão e quis ser jogador de futebol. Ele jogou no time do padre, no time do Zé Preto e também no time do Frigorífico Central. Jogava na ponta-direita. Um belo dia o pai chamou um sujeito do Corinthians que passava as férias na cidade para ver o futebol do garoto. O sujeito viu e disse: “O guri tem vocação para coronel”. Não ia ser jogador de futebol.

O pai ficou encabulado, porque ouviu a sentença pela segunda vez. Sem entender. Mas ainda assim não se preocupou. Orwille entrou no clássico do Gastão Vidigal e cismou em ser pintor. Ele pintava bem a ponto de o melhor pintor da cidade sentenciar: “Ele pinta como eu pinto”. Então os pais chamaram um grande crítico do Rio de Janeiro, o sujeito apareceu na cidade, olhou os quadros de Orwille e disse: “O guri tem vocação para coronel”. Era a terceira vez. Aquilo começou a irritar os pais de Orwille. Que desistiu de ser pintor.

Ele tentou ser político, mas não foi em frente porque achou que não tinha estômago para aquela profissão abominável. O presidente da Assembleia Legislativa disse: “O jovem tem vocação para coronel”. O pai de Orwille morreu sem se preocupar com o futuro de Orwille, porque deixou boa herança. No entanto, numa tarde o padre Alfonso Caminha ouviu uma confissão de uma moça prendada. “O Sr. Orwille fez mal a mim e prometeu casamento a quase todas as moças de nossa freguesia”.

O padre aconselhou a confidente a cuidar da vida e esquecer o assunto, porque “este jovem tem vocação para coronel”. Orwille viveu muitos anos. Ficou velho, morreu há duas semanas e as pessoas que sobreviveram a ele nunca entenderam o que queriam dizer com aquela frase. A verdade é que Orwille virou um velho comedor de rosquinhas e nunca chegou a ser coronel.  

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