Andar de ônibus urbano não é a melhor coisa do mundo, mas também não é a pior. Na realidade, ônibus é algo que éxiste para melhorar a vida da gente. Uma parte disto cabe às empresas: por exemplo, acho o ônibus que faz a linha Abranches-Agua Verde, aquele maneirão, novo, híbrido, melhor que outros que andei pegando para as bandas do Uberaba. Até mesmo para os lados do Barreirinha. A frota poderia ser renovada com maior frequência. Nem vou entrar no ponto crucial da hora do rush. Aí o bicho pega e salve-se quem puder. No entanto, uma boa viagem de ônibus nem sempre é problema da empresa ou de motorista e cobrador sem modos. Muitas viagens se tornam desagradáveis por conta dos próprios usuários.

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Há um código que não precisa ser escrito de boas maneiras para quem usa o transporte coletivo. Basta usá-lo ou não contrariá-lo. Por exemplo, quando o ônibus está cheio: não tem coisa mais desagradável que ver jovem forte fingindo que está dormindo no assento preferencial destinado a idosos, grávidas e pessoas com deficiência. O sujeito mete fone no ouvido, finge que dorme para não ver a velhinha quase desabando em cima dele. E ela nem tenta resmungar porque ele finge que dorme e também finge que não ouve. Como o ônibus está cheio, o motorista está preocupado com o trânsito e o cobrador preocupado com o troco. A velhinha – muitas vezes não se trata só de uma – fica pendurada quase caindo, enquanto um jovem sem consciência social ocupa seu lugar.

Outra coisa muito comum: o sujeito num ônibus lotado enfia mochila nas costas e empurra todo mundo. Nestes casos, quando se trata de brutamontes, ele não apenas empurra e irrita as pessoas, como também não é advertido porque pode engrossar e a pobre vítima de um cara mal educado ainda pode levar uns cascudos ou ouvir grosserias. São duas coisas que contribuem para uma viagem ruim, desagradável e tormentosa, e não dependem de empresa, motorista ou cobrador. Dependem apenas da consciência social de quem usa os ônibus. Quer ver sua viagem virar um tormento? É encontrar um grupo de alegres manguaceiros.

Há quatro dias peguei um ônibus, se não me engano o Santa Gema. O ônibus estava quase vazio, as ruas não estavam cheias, o motorista era bacana, mas a tripulação teve o azar de conviver com dois casais bêbados. Uma dona entrou dona do pedaço, anunciando: “Eu não vou pagar a passagem. Eu vou aqui e ninguém vai engrossar comigo”. O motorista já ficou sem saber se aquilo era sério ou era zoação. O “namorado” dela estava bêbado, mas não quis encrenca. Ele disse: “Deixa que eu pago tua conta, meu bem. Mas tu vai ter que desempenhar na cama”. A mulher achou aquilo engraçado e ele também. Os dois riram. O segundo casal se ajeitou lá na frente e o sujeito que pagou para a mangaceira foi para o fundo onde ela sentou. O ônibus arrancou, o sujeito perdeu o equilíbrio e caiu no colo de um pobre usuário ao meu lado.

O bêbado ficou numa boa: “Seu colo é gostoso, meu bem, mas eu já sou comprometido”. Levantou e foi para o fundo. Olhei para a cara do sujeito que teve o bêbado no colo. Ele estava entre ofendido e furioso. Pior é quando o bêbado quer mostrar seu talento de comediante stand-up. Aí o bicho pega. E fica pior ainda se ele vomita no ônibus. Este é um detalhe escatológico. E neste item tem um que pode parecer brincadeira, mas acontece. E o usuário padece: em dia de frio, o distraído solta um pum. Eu já vi ônibus lotado de repente ter área rapidamente evacuada por causa de um sujeito que quase evacuou nas calças. Coisa de louco! Não é só isso. Uma viagem normal também fica desagradável quando o sujeito ergue o braço na cara do outro que sente o aroma de sovaco suado. Degustação de sovaco suado é a coisa mais horrorosa que existe. É para Sylvester Stallone resolver no tapa. Ou o Arnold Swchazenegger na pancada. Não vejo solução. Anotei estas coisas, porque sou homem. Agora imaginem a humilhação de uma mulher sendo encoxada por, um tipo que acha que pode transformar uma viagem de ônibus numa alucinante experiência sexual? Aí é o fim da picada.

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