Depois de algumas semanas com chuvas esporádicas e temperaturas amenas, o verão verdadeiro, com calorão, mormaço e quentura deu as caras e mostrou que não está para brincadeira. Ele veio quente para mostrar que vai ficar fervendo. Verão é a estação do ano que o cara que está vivo fica com inveja do defunto do IML porque o sujeito está num freezer. É piada, claro, antes que alguém leve a sério. Ontem estava tão quente que um amigo meu, Adejair Barbalho, foi trabalhar duas horas mais cedo e saiu duas horas mais tarde para aproveitar o ar-condicionado da firma. Ficou quatro horas a mais no trampo e saiu contando vantagem: “O patrão pagou a minha frescura”. Só teve um problema na saída. Ele saiu fresco e pegou choque térmico e quase caiu duro. Aí que reside o perigo. Na realidade, existem muitos perigos com o calorão.

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E foi depois de conversar com o médico Dr. Asdrubal Percival Trombone que achei conveniente escrever esta coluna sobre os perigos do verão e cuidados que as pessoas devem tomar, para não correr o risco de baixar num nosocômio. Verão é bom para ver as mocinhas com roupas leves e coxas de fora. Mas fora isso, principalmente numa cidade sem praia como a nossa, o resto é mais perigo que prazer. Portanto, todo cuidado com a rapadura é pouco. Tem gente que acha que o verão é normal. Não é. Verão é anormal. O verão é doido. O Asdrubal me passou um monte de recomendações. São tantas que não dá para relacionar todas, mas as principais são coisas de utilidade pública. Ele pediu: avisa o povo que o verão mata. Mata primeiro e não pergunta depois.

Assim como o frio extremo pode matar, o calor exagerado pode levar o sujeito a pegar mais cedo o passaporte para o além. Vamos começar pelas coisas elementares. Temperaturas elevadas podem aumentar o risco de morte precoce por doenças cardiovasculares. Além disso, elas põem causar infarto e derrame. Ficar muito tempo sob o sol inclemente altera a pressão arterial, espessura do sangue, taxas de colesterol e frequência cardíaca. Sem contar a insolação, que é a exposição do corpo a uma temperatura alta além dos limites fisiológicos. Se a insolação não é nada boa, a intermação é pior ainda. É uma espécie de insolação ainda mais forte, que pode provocar a morte. Acontece quando o corpo esquenta demais e ele não consegue se resfriar adequadamente.

E tem o choque térmico. Ficar num ambiente frio de ar condicionado a 18 graus e sair para o calorão da rua com 39 graus pode dar um bode danado. O tal choque exige um esforço de adaptação muito grande do organismo. No calor em excesso, os vasos se dilatam e a pressão cai. Com o frio acontece o contrário, que dispara a pressão arterial. Nos dois casos o coração leva uma sobrecarga que pode ser insuportável. Para quem tem problemas circulatórios ou tem doença crônica, podem aparecer arritmias cardíacas, alterações metabólicas e pulmonares comprometendo o sistema cardiovascular e aumentando os riscos de enfarte e derrame cerebral. Ou seja, pode ser aquele empurrãozinho para o caixão.

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Claro que ninguém deve entrar em pânico. O aviso é apenas para tomar alguns cuidados. É preciso ter atenção com idosos, crianças e doentes, porque são as pessoas mais vulneráveis ao calor – esta faixa etária deve ingerir água mesmo sem ter sede. Mas todo mundo deve dar prioridade a refeições leves e mais frequentes e evitando as refeições pesadas. Sem contar que esta recomendação todo mundo sabe, mas não custa repetir: evitar exposição direta ao sol principalmente entre as 11 e as 16 horas. Pessoas com doença crônica que tem dieta com pouco sal ou restrição de líquidos devem se aconselhar com médicos. E quem é chegado num goró, tome cuidado porque as bebidas alcoólicas provocam desidratação. E se alguém achar que está com má disposição, mal estar com o calor, tipo “estou tendo um troço”, não tenha pudor em pedir ajuda a familiares, vizinhos ou em último caso a quem e,stiver por perto. Anton Tchecov disse: “Quando as pessoas são felizes, não reparam se é inverno ou verão”. Mas ele certamente não conheceu o nosso verão.