A mulher de Zé Carneiro pediu para ele comprar um vidro de Toddy no meio da noite, mas no meio do caminho ele voltou para saber se não tivesse Toddy no Bar do Bilau, podia comprar lata de Nescau. Zé Carneiro morava no Alto Maracanã. Ele não encontrou ninguém na sala e na cozinha. As crianças dormiam no quarto. Ao entrar no quarto do casal ele encontrou a mulher de calcinha e sutiã na cama e o seu pai, Waldomiro Carneiro, com cara desconfiada, na janela. Ele perguntou: “Está acontecendo alguma coisa?”. O velho respondeu com rispidez de sempre: “O que poderia estar acontecendo?”. Zé Carneiro olhou a mulher na cama com cara desconfiada e disse: “Sei lá. Mas o ambiente parece estranho”. Como o pai era velho e a mulher uma loira de cabelo curto e cara assustada, Zé Carneiro espantou as suspeitas e voltou para comprar chocolate em pó agora sabendo que podia ser Toddy ou Nescau.

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Esta cena e mais outras que se sucederam alimentaram as suspeitas em Zé Carneiro de que a mulher o traia com o seu pai – o pai dele, claro. Aquilo era cruel, porque o velho foi pai ausente, era grosso, mulherengo e na velhice estava no asilo. Ele implorou para morar com o filho, falou que tinha saudade dos netinhos. E agora era suspeito de levar a nora para a cama. Como não havia flagrante, apenas uma avalanche de evidências, Zé Carneiro pegou leve. “Pai, acho que não dá certo você morar aqui. Arrumei casa no Novo Mundo e você vai pra lá”, disse. O velho não gostou. Resmungou que o Novo Mundo era longe. E que ia sentir saudade dos netos. Zé Carneiro não cedeu. Dois meses depois de o velho se mudar a mulher de Zé Carneiro pediu divórcio e foi morar com o ex-sogro no Novo Mundo, agora na condição de mulher dele. Zé Carneiro ficou abismado: “Mas que velho calhorda! E que dona safada”.

O diacho não foi a ex-mulher virar ao mesmo tempo avó dos filhos enquanto o avô virou padrasto dos netos. O mais estranho foi a ex-mulher tirar onda para cima de Zé Carneiro: “Se você acha que eu não fui boa mulher, prepare-se que vou ser uma madrasta muito cruel”. E deu gargalhada humilhante. Como a ex-mulher era uma loira vulgar, compondo par perfeito com o seu pai, o que mais incomodava Zé Carneiro eram os deboches. Mas como todo sujeito que se envolve nestas situações, ele queria saber mesmo como tudo aquilo começou. “Acho que foi na noite em que eu fui comprar um vidro de Toddy no Bar do Bilau”, disse desconsolado. 

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