Depois que Cristoforo Colombo, também conhecido por Cristóbal Colón, descobriu a América, em 1492, organizou-se em Espanha um banquete comemorativo. E, como sempre acontece nestas ocasiões, apareceram pessoas invejosas para cortar o barato do vencedor, botando defeito na conquista. Eram uns cretinos dizendo que o feito na realidade não era grandioso. Afinal de contas, esse negócio de pegar navio e ir sempre em frente, estava na cara que em algum lugar a tripulação ia parar. E chegando lá era descer e pronto. O Cardeal Mendoza perguntou para Christophorus Columbus, nome latino de nosso herói, que outra pessoa seria capaz de fazer a viagem que ele fez, caso não tivesse feito. Colombo pegou um ovo de galinha e desafiou todo mundo a colocar o ovo em pé sobre uma das extremidades.

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Foi um perereco. Quase todo mundo aceitou o desafio, mas ninguém conseguiu botar o ovo em pé. Colombo então pegou o ovo, quebrou a casca e colocou o ovo em pé. Simples. Aí todo mundo disse que deste jeito eles também teriam feito. E Colombo retrucou: “Mas vocês não fizeram”. E a expressão Ovo de Colombo ficou marcada pelos séculos seguintes como aquela coisa que parece óbvia para todo mundo depois que alguém faz, mas antes de alguém fazer ninguém consegue descobrir como se faz. Eu me lembrei do Ovo de Colombo por causa de algumas coisas relacionadas com a Rua XV, aquela no centro de Curitiba. O Adriano Naressi disse: “Muita gente não sabe que a rua da Boca Maldita não é a Rua XV, mas a Avenida Luiz Xavier, também conhecida como a menor avenida do mundo”.

É a coisa mais óbvia do mundo. Mas na hora de falar da Boca Maldita, boa parte das pessoas se refere como Rua XV. Até aí, tudo bem. Foi então que o próprio Naressi fez outra observação que pareceu tão ou mais óbvia que a anterior: “E vocês repararam que ninguém mais chama a Rua XV de Rua das Flores?” Eu fiquei perplexo. Principalmente porque eu não me lembrava de quando foi a última vez que alguém se referiu à Rua XV como Rua das Flores. Se perguntar a alguém, a pessoa não vai ficar em dúvida, mas parece que todo o charme que envolvia esta parte da cidade o tempo desgastou. A Rua XV voltou a ser Rua XV. Rua das Flores quem diz são turistas – e ainda por cima os velhos, porque os novos não estão antenados com expressões que remontam aos anos 70 do século passado. Século passado, não, milênio passado. É muito tempo.

A Rua das Flores tem muito a ver com o começo desta coluna, pois foi um verdadeiro Ovo de Colombo do então prefeito Jaime Lerner. Que enfrentou resistências, naturalmente, de comerciantes temerosos de que a novidade afastasse perigosamente os clientes de seus estabelecimentos, com a proibição de circulação de automóveis e deixando a área exclusiva para pedestres. Aconteceu exatamente o contrário. A Rua das Flores virou coqueluche nacional, com o seu calçadão imitado por dezenas, talvez centenas de municípios de outros estados. Era tão simples. Mas ninguém fez antes. Assim como outras novidades introduzidas pelo prefeito-arquiteto. Novidades que lamentavelmente em vez de serem renovadas e continuadas, foram deixadas meio de lado ao ponto de muitas pessoas não sentirem o orgulho que sentiam delas.

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E depois da Era Lerner como prefeito da cidade, ela parou de produzir soluções urbanas criativas. E o pior não é isso: Curitiba tem hoje muitos desafios para serem vencidos. Os principais são relacionados à mobilidade urbana, que vão se amontoando uns sobre os outros. O tempo passa, as respostas urgem, mas as soluções não surgem. Quando se cobra, a resposta é sempre a mesma: são problemas complicados, demandam muitos recursos e com estas respostas, as soluções vão sendo adiadas. Até que apareça um sujeito espirituoso e criativo e coloque de pé o Ovo de Colombo – e resolva a questão. Espero que apareça, antes que os problemas sufoquem a cidade. Porque sempre existiram problemas e sempre apareceram pessoas que os resolvem. O que não dá é empurrar com a barriga. Como se faz há muitos anos.