O telefone toca e mais uma história emocionante chega ao jornal

Não há nada mais necessário e assustador numa redação que o telefone. Através dele chega ao jornal um sem número de informações. Algumas claras, precisas, outras misteriosas, algumas sem pé nem cabeça e outras enigmáticas. Muitas resultam em reportagens e outras dão em nada. Faz parte do negócio. O telefone toca e o coração bate mais forte. Não tem como não pensar: “O que será desta vez?”. Todo dia é a mesma coisa. Um dia deste um sujeito ligou, eu atendi e ele disse: “Olha, está acontecendo a maior muvuca aqui. Vocês vão mandar alguém? Olha só o tiroteio”. Ele tirou o fone do ouvido e colocou no ar para captar o clima sonoro do ambiente hostil. Sim. No fundo havia uma tremenda muvuca. Ouviam-se tiros.

O sujeito insistiu: “Mande alguém urgente que é assunto quente”. E desligou o telefone sem dizer onde estava acontecendo tudo aquilo. Não é fácil. E a culpa não é dele. Do telefone. Ele é apenas o intermediário nisto tudo. Ontem o Miguel atendeu ao telefone. E ainda bem porque ele é paciente. Ele atendeu e a dona no outro lado foi dizendo: “Olha, estou falando de São Paulo. O meu nome é Adalgiza Cavalcante. Eu fiquei sabendo que aí no Paraná tem um pessoal que quer me sequestrar”. Antes que ele pudesse perguntar alguma coisa ela continuou: “É um pessoal ligado à Máfia Calabresa. O senhor conhece a Máfia Calabresa? Ela está começando a atuar no Brasil”. Miguel olhou para o telefone para ter a certeza de que não estava delirando. E Adalgiza continuou. Disse que foi sequestrada pela Máfia Calabresa há alguns dias. “Eles iam me matar”, contou.

Os caras, segundo ela, desceram do automóvel na frente do Masp e a arrastaram para o interior do veículo, que saiu em disparada e desceu a Consolação. “O senhor conhece o Masp?”, perguntou. Miguel disse que passou em frente algumas vezes e que sabia que ficava na Avenida Paulista. Ele ia contar que morou um ano em São Paulo, mas seu tempo acabou porque Adalgiza deu mais informações sobre o sequestro da Máfia Calabresa. “Depois de passar pelo centro velho, eles me levaram na direção norte da cidade. Eles iam me matar em Guarulhos. Mas na entrada de Guarulhos eles amarelaram. Amarelaram bonitinho. Não sei o que aconteceu, mas sei que eles amarelaram. Eles pararam o carro abruptamente e me deixaram na rua e foram embora. Foi assim que eu sobrevivi”, disse.

Miguel não teve tempo de fazer perguntas. E nem precisava porque as respostas choviam em seu ouvido como um tsunami repentino. Para quê perguntas se as respostas surgem numa avalanche? Aliás, todo tsunami é repentino. “Agora eu estou fazendo um tratamento de saúde num retiro rural. O senhor entende?”, perguntou Adalgiza. Miguel entendeu e naquela altura ele desistiu de perguntar qualquer coisa. Nem precisava. Adalgiza ia responder sem ele perguntar. Ele tinha certeza de que tudo aquilo tinha uma conexão exata: a Máfia Calabresa. “Estou ligando de São Paulo para informar isso. A Máfia Calabresa quer me matar, mas eu estou fazendo tratamento de saúde”, disse ela. E desligou.

Miguel colocou o telefone no gancho e me olhou assustado. Perguntei o que tinha acontecido e ele respondeu: “Bem, uma mulher chamada Adalgiza Cavalcante leu uma notícia no Paraná Online e começou a falar da Máfia Calabresa. Ela disse que foi sequestrada por eles”. Eu perguntei: “Quem?”. Ele disse: “Vamos tomar um café”. Enquanto a gente tomava café ele contou o caso. Ele ficou impressionado. Ele foi procurar informações na internet e ficou sabendo que a Máfia Calabresa atualmente é a mais poderosa da Itália. Que superou a Cosa Nostra (Sicília) e a Camorra (Campânia). “A gente sabe que deve ser alguma pessoa com algum distúrbio ou transtorno de natureza nervosa. Mas este tipo de coisa deixa assustado”, disse ele. Terminamos o café e voltamos para os nossos lugares. Quando Miguel chegou perto de sua mesa, o telefone tocou e ele olhou inquieto. “O que será desta vez?”, perguntou. Certamente era mais um relato sensacional.