Fefeu tem um metro e oitenta e cinco e é mais sério que estátua e cemitério. O cara é boa pinta, mas não dá mole pra garota sem ter certeza de suas intenções. Ele confidenciou pra Profeta que só pega menina com carteira de identidade. “Hoje estou que nem cartório: quero documento autenticado e com certidão negativa. Caso contrário, nem adianta chegar perto”, disse. Acontece que Fefeu se estrepou, ele puxou cana por causa da Lurdinha, que era uma menina linda e o coração dele pra ela prometeu. “Foi tudo armação dos diabos. E eu caí”, disse. Ele falou que Lurdinha se apresentou dizendo que tinha dezoito anos, mas com aquele corpo de primeira a menina tinha pouco mais de quinze.

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Os caras arrumaram testemunhas de que ele pegava Lurdinha há dois anos e ele foi preso por pedofilia. “Tudo pra me tirar na área”, disse, sem explicar o que fazia na área. Quando Fefeu viu a cadeia de perto ele tremeu nas bases: “Profeta, escreva o que eu te digo. O inferno é na terra e fica na cadeia. Cadeia é coisa do cão”. Fefeu disse mais: “Na cadeia você não fica em cima do muro. Ou você está de um lado ou de outro”. Fefeu ficou do lado maneiro, para sobreviver. “Foi assim que eu virei evangélico. Pelo menos não cortam a cabeça de ninguém e você não vira mulherzinha de marmanjo safado, sem contar que na cadeia os evangélicos tomam banho e usam roupa decente”. Em compensação Fefeu leu a bíblia mais que seminarista: “Fiquei bamba na Bíblia. Vou te contar Profeta: eu li tanto a Bíblia que se eu tivesse gogó de ouro e fosse metido a besta eu fundava uma igreja. Na cadeia até pensei num nome: Salvação ao Alvorecer. Não sei o que é, mas achei bonito”.

Quando saiu da cadeia, pra cumprir o resto da pena em liberdade, ele desistiu da ideia de fundar igreja e arrumou emprego de segurança numa rede de supermercado. Tirando a pedofilia com a Lurdinha que foi golpe, ele estava limpo na praça. Agora usava farda preta. Impunha respeito e ficava na entrada do supermercado, atento a tudo. Quando chegava ao bairro, os caras olhavam desconfiados: Fefeu estava sério, usava farda e estava de treta com os homens. Os amigos de Lurdinha afinaram e ela já estava na prostituição. “Do jeito que eu chego na área, eu boto respeito. Tem gente que acha que eu sou Tropa de Elite. Deixa que pensem. Respeito é bom mas eu não abuso. Agora, quanto às garotas, só com RG na mão. Caso contrário, nem atendo”, disse. No mercado as moças olham pra ele, até as clientes. Fefeu fica mais sério que estátua de cemitério. 

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