“O que vale não é a camisa do time. O que vale é a assinatura do Pelé”

Joca nunca teve trabalho com carteira assinada. Mas sempre teve dinheiro fruto de uma atividade terciária chamada viração. Não é de hoje. Isto começou por volta de 1968 quando ele descobriu a mina de dinheiro que era o contrabando de calças Lee do Paraguai. Depois vieram os cigarros americanos, depois uísque, depois gravadores e rádios japoneses, ganhou dinheiro com computadores e até com máquinas fotográficas. Hoje está velho, mas foi um dos primeiros a vender muamba no Paraná. Entre coisas autênticas, muitas falsificadas, claro! Quando o mercado mudava de humor ele mudava de direção. Trouxe roupa de São Paulo a preço barato que comprava em liquidações de porta de fábrica, com defeito aqui e ali. Joca mandava a costureira dar jeito. E vendia como normal, dando desconto e todo mundo saia satisfeito.

Numa ida para São Paulo, há muito, Joca viu Pelé num rebuliço na Avenida São João. Era gente pegando autógrafo do Negão. Joca pensou em entrar no alvoroço, mas pensou na viração. Ele não ia vender papel para ninguém, se bem que autógrafo do Negão, Rei da Bola, ninguém vende. Mais que depressa entrou numa loja que vende tudo que não é legítimo e pediu camisa do Santos. Com número 10 nas costas. O vendedor não tinha. “O que você tem aí?”, perguntou nervoso. O cara tinha camisa do São Paulo, do Palmeiras, do Corinthians e até da Portuguesa. “Nenhuma do Santos?”, perguntou aflito. Nenhuma. Ele pediu a do Corinthians que era branca, mas com o número 10 nas costas.

Joca dobrou, correu e ainda pegou Pelé que tentava se livrar dos caçadores de autógrafos. Chegou com camisa e caneta e implorou: “Assina pelo amor de Deus, meu amigo!”. Pelé viu aquilo, tascou lá: “Para o Joca, com um abraço do Pelé”. E depois abriu a camisa para conferir e levou um susto: “Cê tá de sacanagem, amigo. Isto aqui é camisa do Corinthians!”. Joca já pegando a ponta da camisa para o Pelé não levar embora, disse: “Não tinha nenhuma do Santos. Mas o que vale não é a camisa do time. O que vale é a assinatura do Pelé”. O rei olhou a cara angustiada de Joca e soltou a camisa. Antes de ir embora disse: “Joca, isto foi sacanagem”. Agora, com a crise nos calcanhares, Joca tentou vender a camisa no Mercado Aberto. Não conseguiu. Nem santista, nem corintiano, fizeram oferta. Como ele é da viração, os amigos desconfiam que é mutreta para levantar grana. Joca é capaz de tudo. Mas ele jura que é verdade. Quem conhece a assinatura do Negão confirma.