O povo que passa pela Galeria Suissa e a galera que tem grana na Suíça

Eu estava almoçando naquele restaurante de comida por quilo que tem na Galeria Suissa quando me lembrei de uma história do Valêncio Xavier em que ele escreve “eu estava almoçando naquele restaurante de comida por quilo que tem na Galeria Suíça”. Não era ele, presumo, mas um personagem que almoçava. Em qual mesa? A história não diz. Pode ser qualquer uma.

O restaurante é cheio de brasões dos cantões suíços em todos os cantos e estas coisas dificultam identificar a cadeira em que o personagem sentou. Claro que isto não tem importância. O que importa é o cê cedilha. Enquanto eu levava uma batata quente à boca me ocorreu que Valêncio escreveu Suíça com cê cedilha e o nome da galeria é Suissa com dois esses. Fiquei com a batata quente na boca enquanto perguntava: “Quem está certo? Quem está errado?”.

Tinha que dirimir a questão para em seguida mastigar e digerir a batata quente, que batata quente nas mãos já é problema, imagine batata quente na boca da gente. Conclui, também, que os dois estão certos e os dois estão errados. Valêncio está certo porque Suíça é com cê cedilha, mas errado porque o da galeria é com dois esses.

Por outro lado, a galeria está errada porque Suíça é com cê cedilha, mas certa porque foram os donos que pagaram por ela e eles botam o nome do jeito que querem.  Afinal, o lucro deles não depende da questão e quem pagou a conta não foi o governo suíço. Só isso. Como fica? Não fica e já está feito. Jogo empatado. Empate é melhor que derrota, mas como sabem técnicos pendurados na tabela, não é bom para ninguém. A não ser num mata-mata, quando um time vence a primeira partida. Para ele, empate é vitória.

Era quase meio-dia quando deixei o restaurante por quilo da Galeria Suissa e também era quase meio-dia quando o delegado da história do Valêncio chegou à delegacia e a primeira coisa que ele fez foi mandar o carcereiro buscar comida de primeira no restaurante da Galeria Suíça porque, afinal, é o governo que paga. A minha conta quem paga sou eu.

Eu também pago impostos. De todos os tipos. Não tenho feriado prolongado. Vivo como o pessoal que passa pela Galeria Suissa. Na batalha. Não como a galera do governo que vive como o pessoal da Suíça. No bem-bom pago com nosso dinheiro. Esta diferença incomoda mais que a diferença entre a questão suíça do cê cedilha com a dos dois esses.