Um pastor solitário na Rua XV logo de manhã, de terno escuro e bíblia na mão, andava de um lado para outro pronunciando sermão meio vacilante, porque ninguém prestava atenção. As pessoas passavam ao lado e iam em frente. Até o pastor bradar, para tentar, inutilmente, atrair a atenção de alguém: “Está escrito neste livro. Olho por olho e dente por dente”.

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A sentença atribuída a Hamurabi, rei da Babilônia, no século 18 antes de Cristo, encontra-se no “Êxodo”. O pastor bradou com fúria e acabou dizendo “dante” em vez de dente. Foi senha para me lembrar de amigos chamados Dante. Eram poucos. Mas lembrei, Dante por Dante, como disse o pastor.

O primeiro foi amigo de infância, vizinho e filho do Sr. Arthur e de Dona Tereza, ele gerente da colonizadora Byington, responsável pela criação dos municípios de Pérola, Xambrê e Altônia. Este Dante era irmão do Aristóteles, único amigo com este nome que tive. Em compensação tive dois amigos chamados Homero. E nenhum era cego. Ainda bem.

O segundo Dante foi o Alberti (o da foto acima), pai do terceiro Dante que é irmão do Átila, este uno, porque não conheci outro Átila. O Dante Alberti era figura querida de O Estado do Paraná onde trabalhou por décadas. Além das deliciosas histórias sobre a Curitiba dos anos 40 e 50 que ele tinha o hábito de contar, tenho outro motivo relevante para não esquecê-lo: o saudoso amigo fazia aniversário no mesmo dia que eu e nesta ocasião forrava as mesas da redação de bolos, guloseimas e refrigerantes. Tudo feito em casa por Dona Izolde. Era realmente uma festa.

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O terceiro Dante, filho do segundo e de Dona Izolde, é Dantinho que, apesar do diminutivo, era mais alto que o pai. Amigo silencioso e bacana. O quarto Dante é o Mendonça, jornalista, cartunista, escritor, pintor e membro da Academia Paranaense de Letras, além de titular da coluna que fica na parte superior desta página. Detalhe: pisciano como o Alberti. 

Teve ainda um quinto Dante, de Oliveira, que embora não tenha sido amigo meu, esteve presente na minha vida e de milhares de brasileiros. Foi ele quem propôs a emenda para as eleições diretas já, para presidente da República, ainda no governo João Figueiredo, na primeira metade dos anos 80. E tem, claro, o Dante cujo nome inspirou todos eles, o florentino Dante Alighieri, autor de “A Divina Comédia”, um dos livros capitais da cultura ocidental, base da moderna língua italiana e a mais elevada tradução do pensamento medieval. Estão todos aí. Dante por Dante. 

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