Não sei se a culpa é do escrivão que grafou errado ou do pai que se meteu a homenagear o ex-primeiro ministro Winston Churchill e deu ao filho o nome do homem que peitou Adolf Hitler e contribuiu para derrotá-lo. Peitou porque Josef Stalin num primeiro momento pediu arrego e depois se ferrou pelo vacilo. O resto da Europa arriou as calças. Churchill não. Claro que é um nome forte. Mas é um grande risco colocar nomes estrangeiros em crianças brasileiras com alguns escrivães que andam por aí. Pode e muitas vezes dá meleca.
Os caras ouvem e grafam do jeito que ouvem. E aí saem coisas estranhas. O filho do carpinteiro virou Hinston Tiurtil. Pegando de ouvido com filtro português nem dá para censurar o escrivão. Como o carpinteiro só conhecia o nome do premiê inglês de ouvir no rádio achou que estava certo. E ficou assim porque ninguém invocou. Até porque, o carpinteiro era de família humilde e amigos e parentes se impressionaram com o nome do garoto.
Quando cresceu e também virou carpinteiro, Hinston Tiurtil não ligou porque acostumou com o nome e quando lhe disseram que escrevia diferente no inglês ele achou o dele mais bacana. No final de 1964, para ser mais exato, no dia 14 de dezembro, uma segunda-feira, alguém levou para a construção uma velha revista Manchete com uma velha fotografia de Winston Churchill, que naqueles dias andava bem velhinho e viria a morrer no dia 24 do mês seguinte.
Era a foto famosa de Churchill com o dedo em V, simbolizando a vitória, gesto com o qual saudava todo mundo durante a Segunda Guerra Mundial e nas campanhas eleitorais, como uma mensagem de otimismo. E deu certo. Quando viu a foto, Tiurtil abriu sorriso largo e disse: “Ele é corintiano que nem eu”. Era absurdo. E todo mundo quis saber de onde Tiurtil tirou a conclusão. Ele mostrou a mão direita do premiê e disse: “O homem tá dizendo que o jogo de ontem foi dois a zero pro Curintia”.
Realmente no dia anterior o Corinthians ganhou de 2 a 0 da Ferroviária de Araraquara no estádio da Fonte Luminosa, no interior paulista. Gols de Manuelzinho e Flávio, tudo no primeiro tempo. Tiurtil repetiu o mesmo gesto, com o mesmo sorriso alegre: “Dois a zero pro Curintia”. Mas fora o gesto, os dois não tinham nada em comum. Um era inglês, gordinho, baixinho, fumava charuto, usava terno, cartola e era rico. O outro era alto, magro, brasileiro, pobre, usava calça rancheira e fumava cigarro de palha. Mas ambos levantaram a mão direita e fizeram o gesto histórico, embora com motivos distintos.