Qualquer pessoa se impressiona com o volume de descobertas que os cientistas fazem todos os dias. Uma hora é água em Marte, outro é oceano em Encélado, a sexta maior lua de Saturno, que pode conter vida e assim por diante. E ninguém sabe onde isso vai parar, porque não vai parar enquanto existir vida – principalmente, até onde conhecemos, existir o homem que não para de descobrir coisas.

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Uma destas descobertas me deixou perplexo, embora não seja assim tão estranha. Foi o Miguel Ângelo quem publicou no Paraná-Online mais uma nova dos cientistas: depois que a pessoa morre, ela ainda fica consciente por um período de tempo que varia de dois a três minutos. É espantoso. Se a pessoa está morta como pode estar consciente? Mas é o que acontece.

Eu falei para o Miguel que achava assustador. Ele disse: “O homem é como a lâmpada que se apaga. Mesmo depois que você desliga ainda fica um resto de de energia que vai desaparecendo”. Achei que estava certo. Mais. A mesma coisa ocorre com os astros, com as maiores e menores estrelas, as mais e menos brilhantes. Elas têm um começo, um apogeu, a decadência e finalmente a morte. Se o homem faz parte do universo, por minúsculo que seja, ele não poderia deixar de seguir as leis básicas do universo.

Foi pensando nisto que peguei um livro de Thomas De Quincey sobre os últimos dias de Immanuel Kant. Como muitos sabem, foi um grande filósofo idealista alemão. De Quincey achava que nenhum homem atingiu o nível de inteligência de Kant. Mas mesmo a inteligência a este nível não é divina. Não apenas é mortal, como também diminui, envelhece e fica decrépita. O livro é sobre o apagar da luz deste grande astro humano.

De Quincey registra o momento em que a luz vacila, acompanha as palpitações e hesitações, quando Kant não consegue criar ideias geniais e quando a memória não é confiável. E vai até o momento terrível em que não é capaz de reconhecer alguém. Não se trata de relato biográfico ou jornalístico, mas de exercício ficcional para forjar uma realidade que ocorreu a Kant, a bilhões de pessoas e ocorrerá a todos que nasceram e ainda estão vivos. O recado é simples: o homem é um pequeno astro cujo brilho um dia se apaga, como tudo no universo. O resto é vaidade e fantasia.

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