Vinicius de Moraes encontrou Jorge Luís Borges em Buenos Aires e com a falta de cerimonia que caracteriza os cariocas, perguntou: “Borges, você nunca pensou em drogar-se um pouco? Fumar maconha por exemplo?”. A resposta foi surpreendente. Borges já havia dado um tapa na macaca: “Eu já provei, mas não deu resultado. Eu acredito que em mim a maconha produz menos efeito que uma bala de hortelã”.

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Vinicius não se deu por vencido: “Em mim ela produz um efeito fantástico”. A conversa continuou. Borges disse: “Bom, eu acho que você tem mais sorte que eu. Eu já tentei várias experiências com cocaína e não deu resultado. Por outro lado, quando jovem havia uma bebida muito popular em Buenos Aires que se conseguia nos armazéns e produzia uma bebedeira muito suave. Às vezes eu tomava bebida mais forte, como a grapa e o uísque”.

Mas a verdade é que Borges nunca foi chegado ao álcool. “Na realidade, a única bebida da qual eu gosto é a água. Também gosto de leite frio, da sidra e do café colombiano Mitre. Eu acredito muito na frase do místico inglês Blake: a felicidade vale mais que a alegria. É muito mais importante a felicidade que é serena, que a alegria que tem algo de efemero, de incomodo para os demais, de ruidoso. Uma pessoa bêbada sempre se coloca em rídículo. Quando jovem eu me sentia feliz cavalgando e lendo. Claro que estas felicidades são mais fáceis porque depende de apenas uma pessoa”.

Vinicius disse que este negócio de ser feliz sozinho não era com ele. “Pra mim a felicidade sempre depende de outra pessoa”, disse. Borges arrematou: “É uma fraqueza sua. O importante é ser Robinson Crusoé e ser feliz”. O brasileiro não estava satisfeito: “O que acha das mulheres?”. Borges continuou com sua elegância: “Quando eu vejo uma mulher linda, eu não creio que alguém se enamore dela apenas por isso. Eu conheço mulheres lindas que não são especialmente interessantes e existem mulheres feias que despertam paixões”.

Sobre mulheres feias todos conhecem a opinião de Vinicius: “Não, Borges, as muito feias não. Tem mulheres feias que não tem remédio”. E o argentino retrucou: “A beleza é um elemento entre outros. Se uma mulher é inteligente, é sensível, estes são valores. A beleza tem importância, mas não é o único elemento”. Bem, é importante observar que Borges era cego.

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