O desespero da amante do barbeiro

Um barbeiro muito conhecido na cidade há tempos andava apaixonado por uma rapariga daquela cova de cacos situada na Avenida Vicente Machado, número 4, de propriedade de uma decaída e onde residiam doze marafonas. O nome da mariposa era Anita. O barbeiro passava dias inteiros em colóquio amoroso esquecendo-se dos deveres conjugais. A pobre senhora do barbeiro suportou a situação com calma, convencida de que o marido voltaria a ser o que era. Isto, porém, não aconteceu. E ontem, por volta das 11 horas, a pobre mulher ultrajada na sua dignidade resolveu por termo aquele estado de coisas que parecia não ter fim. A senhora emprestou um revólver de seu irmão mais velho e se encaminhou para o bordel onde o marido alcovitava.

A mulher do barbeiro apaixonado provocou grande escarcéu em sua chegada e colocou a zona em polvorosa. De revólver em punho ameaçou matar Anita se ela não desistisse de suas relações com o seu marido. Diante da mulher armada, a amada Anita declarou que de há muito fez ver ao amante que ele devia deixar de frequentar sua casa, visto que o seu estado civil não o permitia. E disse ainda que apesar de seus apelos, o barbeiro permanecia diariamente no recinto agarrado a ela como ostras às pedras. No entanto, ela prometeu não mais vê-lo e diante da promessa solene, a mulher do barbeiro guardou a arma em sua bolsa e deixou a casa por volta das 12 horas.

À noite, no local, Anita tomou leite e foi para o quarto. O barbeiro desta vez não veio. Anita apertou os braços aos seios. “Sem amor a vida não vale nada”, disse. E depois de proferir estas palavras, decidiu por fim à vida tomando um vidro de iodo. Depois de ingerir o líquido tóxico, sentou-se à cama e esperou a morte chegar. No entanto, como tomara leite antes, o liquido tóxico não fez o efeito desejado e conflitou-se com o lácteo. Anita passou a sentir náuseas, ânsias e as entranhas pareciam prestes a pegar fogo. Anita achou que era a morte e imediatamente se arrependeu do insensato gesto. Ela ergueu-se súbito e gritou assustada e chorando: “Me acudam. Eu não quero morrer”. As companheiras a acudiram e chamaram um facultativo que a pôs fora de perigo. E assim terminou a cena semitrágica de Anita, a amante do barbeiro. (Este caso aconteceu há cem anos em Curitiba)