O cigarro foi o veneno vendido com mais charme no século 20. O cinema contribuiu para envolver o cigarro com aura de glamour, charme e sensualidade. A cena de Rita Hayworth soltando uma cortina fumarenta em Gilda é ícone da cultura pop. Não se imagina Humphrey Bogart sem cara de mau e sem cigarro entre os dedos ou no canto da boca. A coisa foi assim até se descobrir que cigarro era veneno que matava aos poucos e no fim deixava viciados estuporados, morrendo de morte lenta e triste. Foi aí que as coisas começaram a se reverter, porque os governos estavam gastando fortunas para combater os males do fumo. A indústria tabageira contribuía com uma grana preta em impostos para os governos, mas eles perceberam que a relação custo-benefício foi para o ralo.

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Os gastos com saúde custavam os olhos da cara e os viciados pagavam com seus pulmões ou gargantas carcomidas pelas drogas contidas num simples cigarro. Isto, claro, não é novidade. No entanto o pessoal do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo me manda mensagem contando ainda mais desgraças cometidas pelo tabaco, ainda hoje. E quem está no centro do drama são as mulheres. Está certo que o consumo de cigarro diminuiu substancialmente, fumar em público virou algo tão abominável quando soltar pum – talvez ainda mais porque não se sabe de ninguém morrendo intoxicado pelo segundo. Ainda assim tem fumantes por aí. E, principalmente, muitas mulheres fumantes.

É de estarrecer. O câncer de pulmão já superou o câncer de mama como principal causa de morte por esta doença entre as mulheres dos países desenvolvidos. Como o Brasil ainda não é desenvolvido ele não está na lista. Mas como nas coisas ruins ele assimila rápido, não demora muito para entrar. O médico Marcelo Cruz, do Hospital São José, de São Paulo, garante que se a coisa continuar neste ritmo também no Brasil o câncer de pulmão vai ultrapassar o câncer de mama. A informação é da Sociedade Americana do Câncer em colaboração com a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer.

O bicho fica feio porque de acordo com os oncologistas, médicos que tratam pacientes com câncer, com base em dados colhidos pela Pesquisa Nacional de Saúde, 11,2 por cento das mulheres brasileiras ainda fumam. E as mulheres não sabem, mas elas desenvolvem a doença muito mais cedo e elas sofrem muito mais que os homens. Começa a fumar por charme e para de viver por causa do veneno do cigarro. E tratar a doença é complicado. Primeiro, os tratamentos indicados para o câncer de pulmão são a cirurgia para casos iniciais, radioterapia e quimioterapia para casos em que a doença é considerada localmente avançada e sem indicação de cirurgia e quimioterapia nos casos de doença avançada, com metástases em outros órgãos.

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No entanto, aproximadamente 80 por cento dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados com a doença em estágio muito avançado. Ou seja, a vaca já foi para o brejo e o paciente vai precisar de muita paciência para viver seus últimos dias. Por isso a cirurgia é indicada apenas para 10 a 20 por cento dos casos. De uma forma geral, a ocorrência de câncer aumenta na sociedade moderna embora seja doença temida por todos. Uma série de fatores contribui para isso. Aumento da expectativa de vida, urbanização, crescimento e envelhecimento da população, além do tabagismo, excesso de peso e sedentarismo. Para ficar nas causas principais. E aí, como enfrentar o bicho?

A prevenção é sempre o melhor remédio. Adotar hábitos saudáveis de vida, praticar atividades físicas regulares, diminuir ingestão de bebidas alcóolicas e adotar dieta com pouca gordura animal e rica em frutas, legumes e verduras. Mas no caso do cigarro não tem nada mais eficiente que parar de fumar. Faz parte do passado a imagem do cigarro como item de sedução tanto para homens quanto para mulheres. Ele já fez parte do arsenal de conquistas. Agora está consolidado como um veneno que mata o viciado lentamente, letalmente e impiedosamente. Largar o fumo é a grande jogada. Como diria Elvis Presley, it’s now or never. Let’s go, baby.

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