O caso do pescador quarentão e da pequena sereia chamada Sra. Linhares

Djanira chamou o responsável por Divinéia para receber o boletim. Um homem alto e forte, de barba rala, de camiseta azul e tatuagem de âncora no alto do braço esquerdo se apresentou. Como todos os homens do mar o rosto era curtido e a pele bronzeada. O sujeito agradeceu e a professora resolveu elogiar o interesse do homem pela aluna. Djanira se deu mal. Hoje em dia está assim: é melhor não elogiar para não cair do cavalo. As aparências enganam e o mar não está pra peixe. Qualquer escorregão pode ser fatal. Djanira disse: “Acho bonito quando o pai vem buscar o boletim da filha. Isto demonstra preocupação com a menina. Parabéns, senhor… Como é o nome do senhor?”. O sujeito olhou a professora com cara de desagrado e respondeu: “Meu nome é Gideão Linhares do Nascimento. E mais: Divinéia não é minha filha. É minha mulher”.

Sorte da professora que o sujeito virou as costas e foi embora. Ela ficou parada perplexa de boca aberta como se tivesse acabado de presenciar o impacto de um meteoro na quadra de esportes da escola. Divinéia tinha catorze anos, embora não fosse o primeiro caso inquietante de precocidade sexual na escola. Ela prometeu a si mesma fechar a boca e não tocar mais no assunto. Não adiantou. Na aula seguinte, Divinéia veio faceira e orgulhosa puxar papo com a professora: “Oi professora! A senhora pensou que meu marido fosse meu pai? Que sarro!”. Djanira admitiu que fez confusão. E como a garota tocou no assunto ela disse: “Divinéia, você tem catorze anos. E quantos anos têm o seu marido?”. Divinéia não fez cara feia para responder: “Quarenta e seis”.

Divinéia contou mais. Gideão Linhares do Nascimento largou a mulher com seis filhos para morar com a garota, que achava tudo aquilo divino e maravilhoso, principalmente porque agora tinha dinheiro para comprar lanche na escola. Ela disse: “Ele falou que vai casar comigo no papel. E depois que isto acontecer eu vou ser chamada de Sra. Linhares. Chique, né professora?”. A professora concordou que era chique para não criar problema e aproveitou para perguntar  como o casal se conheceu. Divinéia contou: “Foi no Bar do Marujo, onde os pescadores ficam quando não estão no mar. Eu ia comprar bala e o Gideão começou a pagar pirulito”. A professora se impressionou: “Pirulito?”. A aluna disse: “Sim, ele começou a pagar pirulito e depois Chips”. E foi assim que tudo começou.