Os casos mais misteriosos, escabrosos e intricados dos submundos financeiro e sexual de Curitiba caem nas mãos de Franz Georg da Silva, investigador especializado, com curso de aperfeiçoamento em Frankfurt. O detetive conhecido pela alcunha de Baixinho é bamba no assunto. Para quem estranha as duas modalidades da vitoriosa e discreta carreira, Franz Georg explica: “Elementar, meu caro! Onde tem dinheiro tem sacanagem e onde tem sacanagem tem dinheiro”. Além disso, dinheiro e sacanagem se cruzam com frequência impressionante e alucinante no fascinante mundo da trambicagem. Como no caso de Guilherme Guimarães, conhecido por Almirante e Velho Guima.

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Velho Guima morreu no dia 7 de setembro de 2013 e foi enterrado no dia seguinte. Guardem as datas, por favor! Elas são importantes no caso. Velho Guima era comodoro do Iate Clube da Represa do Capivari, título honorífico de uma entidade meramente informal. Assim como a patente de almirante que ganhou quando levou amigos para desfrutar um fim de semana em seu barco ancorado, na realidade uma canoa metida a besta, na frente da casa em Guaratuba. Ficou para sempre conhecido como Almirante e Velho Guima. Que ao morrer, recebeu homenagem de Alfredo Porreta, amigo de pescaria: “Nunca houve homem mais digno, respeitoso, respeitável, amigo dos amigos e honesto que o Velho Guima, nosso eterno almirante”.

A viúva Dona Delmira chorou. E pensou que a vida daí em diante ia ser um marasmo. Engano. Cinco meses depois ela recebeu intimação de um banco que queria receber uma conta de R$ 45 mil, de empréstimo feito pelo Velho Guima. Ela tremeu nas bases. Não tinha dinheiro. Os filhos não tinham dinheiro. E até onde sabia o finado não tinha colocado a mão na grana preta. Era aposentado e levava vida modesta, fora, claro, as pescarias no Capivari e fins de semana em Guaratuba. O filho mais velho, Dioclesiano, foi conferir e constatou a data do empréstimo: “O pai não pode ter feito este empréstimo porque ele foi contraído no dia 19 de setembro. Nesta data ele já estava no além. E até onde sei, ele não voltou”.

A primeira dúvida de Dona Delmira: “Será que tem caixa eletrônico no além?”. Dioclesiano respondeu: “Deixa de ser besta mãe. Isto aqui está errado”. Foram com atestado de óbito em punho falar com o gerente que não quis saber e disse que foram ordens da matriz em São Paulo. “Eles não querem saber. Eles querem receber a grana”. A viúva disse que ele não emprestou e perguntou: “Vocês tem agência no além?”. O gerente respondeu: “Sinto muito não dizer por que esta é uma informação confidencial. O que sei é que existe a dívida e ela tem que ser paga”. Dioclesiano perguntou: “Mas e a data?”. O gerente respondeu: “A data é um mero detalhe. O velho paga ou vai ser preso”.

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Foi então que Dioclesiano atacou em duas frentes. Constituiu advogado que disse que era teteia resolver o assunto e contratou Franz Georg para levantar informações para o advogado. Eu quis saber o que o detetive descobriu e ele respondeu: “O que eu sei até agora é que o velho morreu no dia 7 de setembro, o empréstimo foi feito no dia 19 de setembro do mesmo ano, mas estou com dificuldades para saber se o banco em questão, uma grande instituição financeira nacional, tem agência no além”. Eu perguntei em tom de chacota: “E se Almirante sacou a grana preta no além?”. Ele me olhou sério e depois: “É uma questão que tenho que conferir no local”.

Depois, Baixinho balançou a cabeça: “O diacho é que a Polícia Federal dificulta para resolver estas questões de passaporte para o além. E quando resolve a gente não volta mais. Assim não tem graça”. Este é o caso mais misterioso, intrincado, intrigante e sacana da longa carreira de Baixinho. Mas ele vai resolver. Ele respirou fundo e desabafou: “As pessoas falam em bandidos! O que é um pobre assaltante perto de um banco, meu amigo?”. Baixinho não sabe, mas ele acabou de repetir uma frase famosa atribuída a Vladimir Ilitch Ulianov, que por sinal também está no além junto com Almirante. Talvez, pescando em alguma represa.

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