Frederico disse: “Vamos tomar um café!”. Atravessamos a rua e entramos no Café Cathedral, perto da Praça Tiradentes. Ele pediu expresso e eu água tônica Schweppes. Frederico estava preocupado. Olhou a xícara de café enquanto mexia o fundo com a colher. Depois disse: “Eu tomei uma garrafa de vinho numa pequena cidade do oeste de Santa Catarina há alguns meses e depois peguei a estrada”.

continua após a publicidade

Duas horas e alguns quilômetros mais tarde, uma bruma envolveu a região e Frederico parou para dormir no primeiro lugar que encontrou à beira da estrada. “O nome era Hotel Arquipélago”, disse. Na parte superior da fachada do hotel havia dois letreiros formando um V, com letras pintadas em vermelho, cada um direcionado para um lado da rodovia, letreiros iluminados por dois pares de holofotes fixados na base do último pavimento.

Na frente e ao lado do hotel havia dezenas de caminhões de carga estacionados cujos donos àquele momento dormiam. “Parecia lugar construído para um projeto ambicioso”, disse Frederico. No interior do hotel havia restaurante amplo agora vazio, sala de reuniões com teto em péssimo estado, sala de espera e discoteca abandonada. Era um hotel com muitos quartos. Se foi construído para algo grandioso, agora não passava de um hotel à beira de estrada. Algo que deveria ser suntuoso e ficou decadente.

“De madrugada eu levantei para tomar água e urinar e perdi o sono”, continuou Frederico. Ele desceu para a sala de espera, para ler uma revista, mas estava tudo deserto. Na recepção, o porteiro dormia com a cabeça sobre os braços apoiados no balcão. “Eu desci por uma escada, forcei a porta e abri”, disse Frederico. Ele ficou me olhando. Queria que eu perguntasse o que ele viu. Mas não perguntei e ele disse: “Sabe o que eu vi?”.

Disse que não. “Tinha roletas, bares, era um cassino, que foi fechado e estava abandonado. Dava para imaginar o barulho das roletas e dos dados rolando nas mesas. Eu sai dali, fui para o quarto e dormi porque decifrei o segredo do lugar: ele foi construído para ser cassino clandestino e foi fechado”, disse Frederico.

Frederico bebeu o resto do café e disse: “O diacho é que na semana passada eu quis rever o lugar por curiosidade e não achei. Simplesmente sumiu”. Este o problema. Ele agora não tinha certeza de que o lugar existia. E me contava para perguntar: “Você acha que estou ficando maluco?”. Esvaziei a lata de água tônica e disse com toda sinceridade: “Não sei”.

continua após a publicidade