O Brasil é bacana, mas já foi governado por Pedro Banana

Eu conversava com um amigo sobre grandes jogadores paranaenses e quando mencionei o nome de Sicupira, o sujeito meio desligado disse: “Que coisa estranha! Até hoje eu não sei por que Sicupira tem este apelido”. Eu expliquei que não era apelido. Era sobrenome do ex-jogador, cujo nome verdadeiro é Barcímio. Aliás, nome de seu pai. O cara me disse que pensou que fosse apelido inspirado pela novela “O Bem Amado”. Eu observei: “Primeiro, o jogador é anterior à novela. Segundo, eu já disse que não é apelido. É sobrenome. E, terceiro, o nome da cidade da novela é Sucupira. O nome do ídolo atleticano é Sicupira”. O que parecia virar discussão sobre apelidos, na realidade sobre a origem dos apelidos, virou conversa sobre o hábito de botar apelidos nas pessoas.

A conclusão a que chegamos é a de que apelidos são como praga: ninguém sabe como aparecem, mas aparecem. E para exterminar é complicado. Às vezes não desaparecem. O amigo disse que conhecia um cara chamado Filé Manco. Ninguém entendia como um filé podia ser manco. Se fosse Filé Mignon, tudo bem. “O coitado tem este apelido idiota e não sabe explicar como surgiu”, disse. A única explicação era a de que, como praga, “apareceu”. Muitos apelidos surgem de brincadeiras: o goleiro Mazarópi que jogou no Vasco da Gama, Coritiba, Grêmio e Náutico se chama Geraldo Pereira de Matos. Ele ganhou a alcunha porque um dia chegou para treinar com roupas simples e o zagueiro Brito o chamou de Mazzaropi, nome de comediante e famoso produtor cinematográfico, que interpretava personagens caipiras. O apelido pegou.

Havia no Grêmio de Maringá um roupeiro chamado Parafuso. Ninguém sabia ao certo porque o roupeiro tinha este apelido. Mas quando viram o filho dele, não tiveram dúvida: “O filho do Parafuso só pode ser o Rebite”. O apelido pegou. Alguns apelidos tem história bonita como o de Sebastião Bernardes de Souza Prata que o Brasil conhece por Grande Otelo. Sebastião foi morar na casa de uma família, cuja filha Abegail Parecis era atriz e queria ser cantora lírica. Ela tomava aula de canto com um professor que quando ouviu Sebastião cantar, disse que ele tinha boa voz. O professor disse que se ele educasse a voz poderia interpretar Otelo de Shakespeare. E, seria, assim, um Pequeno Otelo. Sebastião foi parar na companhia teatral de Jardel Jércolis – pai do futuro ator Jardel Filho – que o apresentou para o público, como Grande Otelo. Apelido que ficou. Orson Welles achava Grande Otelo o maior ator brasileiro.

Mas colocar apelido está em nossa história. Um hábito que veio de Portugal com as caravelas. Um dos capitães da frota de Pedro Alvares Cabral, que comandava a nau São Pedro, era chamado de Inferno. Outro navegador, João Dias de Solis, sujeito nervoso, era conhecido por Bojes de Bagaço. O náufrago Diogo Alvares ficou conhecido por Caramuru – apelido dado pelos índios tupinambás. Teve um governador de Pernambuco deposto em 1666, chamado Jerônimo de Carvalho, que resolveu modular o bigode à maneira do general alemão Friedrich Hermann von Schomberg. Como o pessoal não sabia falar Schomberg, o apelido do governador ficou Xumbregas. Os apelidos continuaram em nossa história.

Depois da Independência do Brasil, José Bonifácio, no exílio, chamava Dom Pedro I de Pedro Malasartes. E os republicanos sem respeito chamavam Dom Pedro II de Pedro Banana. Mas poucos tiveram tantos apelidos quanto Evaristo da Veiga, autor do Hino à Independência, e que viveu apenas 37 anos. Era conhecido por Ripanço, Dom Bertoldinho, Marreco Ripanço e Capadócio de la Viga. Na República, os apelidos continuaram. Vamos pegar os primeiros presidentes: Prudente de Morais era chamado de Biriba, Rodrigues Alves de Morfeu, Nilo Peçanha de Moleque Presepeiro, Epitácio Pessoa de Seu Pita e Artur Bernardes de Seu Mé. Getúlio Vargas era Gegê. Mas certamente o maior apelido brasileiro é o do comediante Antônio Renato Aragão: Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo. Depois desta só resta dizer: é o fim.