Não é preciso ser connoisseur de literatura brasileira, principalmente a baiana, para saber que Hector Julio Páride Bernabó, foi pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino, que a partir de 1949 foi virando brasileiro, principalmente baiano. Ele é conhecido por ilustrar os livros de Jorge Amado com o nome de Carybé.
Em 1957, Carybé naturalizou-se brasileiro e foi confirmado Obá de Xangô do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, como Otun Onã Shokun e Iji Apógan na casa de Omolu. Não é para o bico de qualquer argentino. Carybé virou tão baiano que quando morreu em 1º de outubro de 1997 em Salvador, estava no Terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá. Ele era um caso típico de baiano argentino. Não é o único estrangeiro que virou baiano.
Tem Pierre Edouard Leopold Verger, que, como o nome indica, é francês, além de fotógrafo, etnólogo, nascido em Paris em 1902. Verger também virou baiano e assumiu o nome religioso de Fatumbi. Ele morreu no dia 11 de fevereiro de 1996 em Salvador. Mas também tem o contrário, baiano que virou nova-iorquino, carioca, paulista, paranaense e até francês. Claro que nas cidades, estados ou países em que estavam. Eu chamaria isto de adaptação.
Agora um baiano virar argentino e ainda mais em Camboriú, é impressionante. E foi o que aconteceu ao Major Nelson Magalhães de Souza Meira. Nos anos 70, quando o balneário catarinense era frequentado em grande parte por paranaenses, gaúchos e argentinos, Major Nelson apareceu por lá com seu inegável sotaque baiano dizendo ser argentino. E mais. Que era cantor de tango renomado em Buenos Aires com o nome de Hernan De Portocarrero.
Cantor de tango, sim. Cantava em espanhol com sotaque baiano. E, bizarro ou não, atraiu muita gente para a churrascaria Miura dos Pampas, cuja carne era de primeira, porque o comandante da cozinha era outro militar, o Sargento Alejandro Pantoja, gaúcho das Missões. Assim como o major, Pantoja jurava de pés juntos que era argentino – e que o major também. Ninguém acreditava. Mas não ligava porque a carne era boa e o tango não era ruim. O baiano botou banca de argentino em Camboriú até morrer em 1992. Quando aconteceu, o sargento Pantoja chorou que nem criança e voltou para o Rio Grande do Sul como uma pobre viúva abandonada.