“O autor escreve apenas a metade de um livro”

No final da tarde de segunda-feira eu deixava o jornal pela Rua José Loureiro e entrava na Rua Monsenhor Celso quando um senhor vindo da direção oposta me olhou. Eu reconheci o seu rosto, mas, imediatamente, não me lembrei de onde. Ele me parou, me perguntou o nome, eu respondi e ele disse que era leitor da coluna. Não apenas desta. Mas também de outra que fiz para a Tribuna há alguns anos, uma seção através da qual publiquei três novelas no gênero folhetim, alias o nome da coluna. Ele disse que gostava de ler os folhetins e ainda tem guardadas as edições do jornal em que saíram. Não tem nada mais gratificante para quem escreve do que isso. Do que saber que tem quem goste. O autor é intermediário. Quem dá vida ao texto é o leitor. 

Este senhor comprou o livro com duas novelas – “A Dama do Largo da Ordem” e “Mate meu marido, por favor!” –, que publiquei em maio e que está à venda na Livraria Sebo Novo (ao lado da entrada da Tribuna, na Rua José Loureiro, nº 300). Ele veio me pedir para escrever uma dedicatória, o que fiz com prazer. E na segunda-feira ele disse que queria que eu fosse com ele na livraria, a poucos metros de onde estávamos, porque que queria adquirir “A Garota da Cidade” e o livro duplo com as novelas “A Loira do Táxi Noturno” e o “Homem do Hotel Cervantes”. Eu fui e como da vez anterior eu fiz as dedicatórias. Não vou dizer que este tipo de situação acontece todo dia. Mas quando acontece é agradável. Assim quando o amigo Anésio Berti me parou na rua com aquele jeito imprevisível e falou que estava lendo um livro meu e fez comentários.

Há semanas entrei em outra livraria e o dono saudou: “Eu leio a sua coluna”. E fez comentários a respeito de suas impressões. Mais recentemente, há dias, fui surpreendido com a coluna do colega de Tribuna, o Augusto Mahfuz, na qual fez referências generosas ao trabalho neste espaço. Noutra ocasião, eu deixei a redação para ir embora e encontrei o colega Dante Mendonça na rua e ele me disse algo que surpreendeu, mas que não deixava de ser verdade: “Agora você vai começar a trabalhar”. Ele se referia ao fato de que uma das fontes que abastecem as histórias que saem aqui, são as cenas de rua, conversas que ouço no ônibus, histórias contadas por amigos, narrativas que todo mundo tem e que aqui são relatadas, muitas vezes, quando é o caso, com outros nomes, para preservar os seus reais personagens.

Estou citando estes exemplos e situações, por serem uma resposta dos leitores para o que a gente escreve. E faço isto hoje por uma razão especial. Hoje a coluna entra em seu segundo ano de vida. Parece que foi ontem que tudo começou. Neste primeiro ano de existência recebi as mais variadas manifestações de apreço de leitores, por e-mails ou não. Certa vez eu estava num micro-ônibus e havia apenas quatro passageiros e dois deles lendo a Tribuna, cada um com o jornal dobrado. Talvez até pela facilidade de ler a coluna que fica na última página, basta dobrar o jornal e pronto, eles a liam. Sem contar os amigos e leitores distantes que acompanham pela internet. São muitas as situações neste primeiro ano de vida que poderiam ser relatadas não fosse o espaço exíguo para isso.

Claro que todo jornalista vive do salário, mas não tem nada mais recompensador que o interesse do leitor. É no interesse do leitor que ganha vida o texto de qualquer profissional que vive do ofício de escrever. O grande escritor polonês Joseph Conrad, autor de um dos livros que mais admiro, “O coração das trevas”, dizia que “o autor escreve apenas a metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor”. O mesmo eu poderia dizer da coluna. Eu procuro aqui fazer a minha resenha, mas ela só existe por causa dos leitores. Todo dia eu os agradeço secretamente, mas hoje, até por ser o primeiro dia deste segundo ano de vida, é uma oportunidade ideal para externar neste espaço o meu agradecimento a todos que me recompensam com a sua atenção e com a sua leitura. Muito obrigado. E vamos em frente.