“Nunca confie num homem de bigodinho”

Uma mulher do tipo que se sente amiga de todo mundo chegou para um sujeito na fila no ponto de ônibus e sugeriu: “Por que você não deixa o bigode crescer? Vai ficar mais bonito”. Ela sugeriu com a melhor das intenções. As pessoas ao redor fingiram não ouvir a sugestão, menos o sujeito que foi elegante e respondeu, com um riso envergonhado: “Eu vou pensar no assunto”. Eu tinha certeza de que a mulher ia espichar conversa e o sujeito ia ficar mais constrangido, mas como nos velhos filmes de faroeste, a cavalaria chegou e salvou o nosso herói – cavalaria no caso era o Jardim Chaparral, amarelão que estacionou no ponto da Tiradentes, abriu a porta e acabou até com o interesse da dona em ver o cara com bigode na cara.

Prova de que o sujeito não gostou foi que a mulher passou a catraca e ele ficou encolhido no banco atrás do motorista, velho truque de quem quer evitar confusão. Eu não sei por que a mulher sugeriu bigode para o moço, talvez porque fosse ruivo: bigode está fora de moda. Aliás, nunca houve consenso sobre bigode, assim como existem vários tipos de bigode e o mais polêmico é o famoso bigodinho aparado, que denota certa safadeza no trato com as mulheres e na política, porque muito usado nos anos 20 aos anos 40 por conquistadores de mulheres e de nações. Está certo que bigode era um adereço capilar marcante no palhaço Charles Chaplin. Mas também era um símbolo de ditadores como Adolf Hitler, Augusto Pinochet. Francisco Franco e Josef Stalin. Havia bigode para tudo que era tipo de ideologia.

Poucos homens hoje em dia tem bigode, embora alguns tenham barba. É prudente não confundir os dois. O bigode ganha notoriedade quando sozinho no rosto do sujeito, com barba vira protagonista. A barba é mais abrangente e seu território além de maior, ofusca o bigode abaixo do nariz que perde em projeção visual para a barba. No entanto, o bigodinho aparado sempre inspirou certa desconfiança. O escritor inglês Pelham Grenville Wodehouse cunhou uma frase famosa: “Nunca confie num homem de bigodinho”. Eu desconfio que ele falava de Adolf Hitler. No entanto, há outra frase atribuída a Charles Bukowski na mesma linha: “Jamais confie num homem com um bigode perfeitamente aparado”. O certo é que se bigode hoje em dia é raro, mais raro é o famoso “bigodinho”, aparado.

E não deixa de ser sintomático o fato de o bigode estar fora da onda. Ele lembra tempos de hegemonia patriarcal e hoje vivemos uma época plural. Afinal, todos sabem: mulheres, quer dizer a maioria, não tem bigode. É tão raro mulher de bigode, embora na península ibérica existam casos notáveis, que há um velho provérbio que diz: “Com mulher de bigode nem o cão pode”. Provérbio meio machista como é machista o candidato derrotado a presidente da República Levy Fidélix da Cruz, dono de vistoso bigode. O bigode pode ser grande, mas o partido dele é bem pequeno. O que não o impediu de protagonizar a maior polêmica do primeiro turno ao se referir preconceituoso sobre a comunidade homossexual. O certo é que bigode não resolve nada: grande parte dos presidentes da República Velha tinha bigodes. Ruy Barbosa tinha bigode. E daí? Não fizeram nada grandioso. Sem contar o José Sarney que só tem bigode e esperteza.

Claro que nem todo mundo que tem bigode é gente má, não vamos generalizar. Rivelino e Sicupira, por exemplo, são bigodudos que orgulham as nações corintiana e atleticana. Eu mesmo tive bigode. Por pouco tempo, mas tive. Eu tinha barba e para ver como ficava de bigode, deixei por um dia e saí com aquele bigodão escandaloso. A primeira reação dos amigos foi de chacota. Todo mundo achou engraçado e um disse: “Você ficou a cara do Emiliano Zapata”. Eu respondi que o bigode revelava o meu lado feminino. O cara não entendeu e expliquei: “É que meu lado feminino é Zapatão”. O cara me olhou mais escandalizado com a resposta do que com o bigode. Era um trocadilho infame, uma piada, mas o cara não gostou. Eu percebi que nem com a cara de Emiliano Zapata e fazendo graça o bigode ia funcionar. E desbigodei no dia seguinte.