Eu não quero dizer que sou defensor do modelo de famílias antigas, digo de minha infância, com doze filhos e mais cinquenta primos, que contribuía para a sociabilização, até por questão de sobrevivência. Afinal, todo mundo vivia em grupos. Este modelo está aparentemente superado por agravar ainda mais o problema da explosão demográfica. Mas é fato que hoje o que predomina é o individualismo. E para ninguém ficar sozinho, se apega aos bichos. Hoje é cada um por si e os bichos por todos.
Naturalmente existem exceções. Não estou falando delas. E sim do que se transformou quase em regra, a falta de entendimento. Para complicar mais ainda, os animais têm uma série de vantagens sobre os humanos numa relação doméstica. Não falam e não ofendem ninguém com palavrões e frases agressivas. Os animais não usam roupas de grife e não esperam ganhar presentes no Natal e uma dezena de outras datas. E também não ficam chateados se não ganham.
Os animais não pressionam para ir a um restaurante caro ou para conhecer Paris nas férias. Não fumam, não se drogam, não bebem e se paqueram outros animais é problema deles. Além disso, como no caso dos cães, estão sempre disponíveis para nos cobrir de afeto. E, para não espichar, não levam ninguém para os tribunais depois de um relacionamento fracassado, não pedem pensões exorbitantes e nem mandam ninguém para a cadeia se o sujeito ou a dona não pode pagar.
São, como disse, muitos fatores. Uma amiga de São Paulo se apegou tanto aos gatos que mesmo mudando de casa para apartamento levou os cinco gatos. Ela é uma pessoa alegre e dia destes estava abatida. Eu quis saber o motivo: “Estou arrasada, a Gata Triste ficou bem velhinha e morreu”. Eu pensei que fosse a escritora inglesa que morreu com 85 anos em 1976, mas era o primeiro felino em sua vida. Ela chorou. As pessoas choram por seus animais. E poucas pessoas choram por humanos que morrem. Sinal dos tempos.