Naquela sala Barack Obama sofreu como qualquer um

Os dois últimos jogos das oitavas-de-final da Copa do Mundo foram um primor. Um primor de como levar multidões ao sofrimento e ao esgotamento nervoso. Tem argentino até agora tirando com os olhos a última bola da Suíça na prorrogação, a que bateu na trave argentina, voltou para o atacante suíço e que depois foi para fora. Sem contar que o Sr. Antônio Ferreira, de 64 anos, passou mal no estádio durante o jogo, foi levado para o hospital Santa Marcelina, em Itaquera e morreu. No estádio foram 124 casos de atendimentos. E o que dizer do jogo dos Estados Unidos definido nos 30 minutos da prorrogação, depois de 90 minutos de lá e cá e vice-versa? Coisa de louco!

Até o “homem mais poderoso do mundo”, o presidente Barack Obama, sofreu sentado no salão – não sei se foi no oval ou no outro – sem poder fazer nada. Quase todos os jogos da Copa estão assim. De botar coração de cardíaco na UTI. Eu gostaria de saber se é racional ver uma partida de futebol com alto grau de tensão como estas. É um sofrimento para torcedores dos dois lados, sem contar os jogadores na prorrogação, extenuados psicologicamente, emocionalmente e fisicamente. Os torcedores esgotam o estoque de pipoca, amendoim e palavrões. E não sabem o que fazer. É irracional. Imaginem a ironia. O presidente dos Estados Unidos tem um telefone na sua mesa que pode pegar e ordenar disparar misseis para acabar com o mundo. E ali ele não tinha um celular para liquidar com os belgas. Ou belgicanos, como dizia João Mendonça Falcão, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol.

O homem tem autonomia para bombardear o Afeganistão, o Turcomenistão, além do Cazaquistão e o Uzbequistão. Ele não conseguiu colocar a bola no gol dos belgicanos, não conseguiu mandar uma bomba no ângulo adversário. Ele ficou sofrendo como milhões de torcedores que viam o jogo na Fonte Nova ou nos EUA gritando “iu-esse-ei” a plenos pulmões. Eu, com menor intensidade, também sofri porque eu queria que os ianques ganhassem. Torci para eles. Torci e ali onde eu torci (praça de alimentação do Shopping Mueller) qualquer um torcia calado, porque não sei o motivo, a maioria estava com os belgicanos. E aí vem mais uma coisa maluca. A gente torce para o time da gente e ainda por cima vai ver jogos de outros times – no caso da Copa do Mundo. Escolhe um e fica torcendo contra o outro e quando termina, se o outro ganhou, a gente fica triste.

No meu caso, fiquei contagiado pelo crescimento do futebol nos Estados Unidos. Sinceramente eu gostaria de ver o que aconteceria com aquele país se chegasse numa final de Copa do Mundo – e ganhasse. Ia ser um espetáculo fascinante! Tio Sam ia ficar doidinho – ia ficar piradão. Ver uma Alemanha chegar numa final não tem graça, eles já chegaram sete vezes. Ver a Argentina chegar numa final é pagar para ouvir gozações do jornal Olé. E do Maradona. Para ficar nos gozadores famosos. Ver a Holanda chegar numa final e não ganhar não é novidade. Se ganhar, já estava na hora. Mas os americanos levando a Copa! Eu só queria ler o editorial do New York Times que procurou as maiores bobagens do mundo para justificar o “desinteresse” dos americanos pelo soccer.

“Desinteresse” traduzido em recordes de audiência, multidões nos parques para ver partidas nos telões e até no presidente do país dando palpites na escalação. Ia ser simplesmente fantástico. Aí o leitor me pergunta: “E o Brasil, rapaz? O que você diz do Brasil?”. O Brasil é outra história: “Nem me pergunte!”. Porque aí eu volto ao começo desta coluna: estou com o coração na mão. Eu acho que a Colômbia está jogando muito e o Brasil não está jogando nada. Com esta fórmula, o Brasil precisa da ajuda de Deus. Porque o papa, todo mundo sabe, é argentino. Ele rezou tanto no salão oval do Vaticano que Messi deu uma arrancada e jogou a bola nos pés do Di Maria, para ele enfiar no cantinho do goleiro suíço, no final da prorrogação. O papa argentino fez a parte dele. Quero ver amanhã? O duro é que a gente nem pode reclamar de Deus. Ele já fez a parte dele contra o Chile. Amanhã digo, mais.