Napoleão perguntou: “Posso ser útil em alguma coisa, meu amiguinho?”

Se há coisa irritante para qualquer pessoa é sair correndo do quarto para a sala para atender ao telefone e quando chega lá descobre que é a garota do telemarketing de uma operadora querendo vender um plano combo sensacional que vai mudar a vida financeira da família, porque se trata de algo melhor que o plano da concorrente ou seja lá qual a família está usando atualmente.

Na realidade, as operadoras são como os chineses. De longe é tudo igual e de perto a gente não diferencia uma de outra. Além das operadoras, os bancos costumam usar o telemarketing para ligar a qualquer hora do dia para oferecer serviços. Tem ainda entidades assistenciais que você nunca ouviu falar, que liga para avisar que ao lado da telefonista tem uma criancinha esquálida, passando fome e que vai morrer se você não contribuir com uma quantia financeira por mês.

Pior que todas são os caras da penitenciária que ligam para avisar que sequestraram alguém da família, um pai, quando o teu pai está tirando um cochilo no sofá bem na tua frente. Por tudo isto, acredito que o hábito de passar trote saiu de moda. Primeiro, as pessoas estão ocupadas e impacientes hoje em dia e não tem tempo para trote. Segundo, porque a “concorrência” joga pesado e não convém irritar ninguém que já está irritado com telefonemas inconvenientes.

Mas houve tempo em que trote era natural. Algumas pessoas até tinham o hábito de ligar para as outras num estilo próximo ao trote, mas que não era trote. Como o Roberto Tocafundo, repórter policial. Ele ligava para qualquer lugar perguntando: “Alô, é do Manicômio Judiciário?”. Ele sabia que não era. A pessoa dizia que não era e ele perguntava de onde era, sabendo de antemão de onde se tratava. Só depois ele perguntava pelo fulano que procurava.

No entanto, como tudo que tem um começo tem um fim, esta brincadeira acabou no dia em que ele ligou para um lugar e perguntou se era do Manicômio Judiciário e a pessoa que atendeu com um sotaque francês na voz confirmou que era. Como Tocafundo sabia que não era, levou um susto e perguntou de novo de onde era. A pessoa no outro lado da linha disse que era do manicômio e meio sem jeito Tocafundo perguntou quem estava falando.

Foi aí que ele perdeu o rebolado. A voz com sotaque francês disse que era Napoleão Bonaparte. E o imperador perguntou: “Eu posso ser útil em alguma coisa, meu amiguinho?”. Meio pálido, Tocafundo desligou o telefone e nunca mais perguntou para ninguém se estava falando do Manicômio Judiciário. 

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