Não está fácil ser professor da rede pública no Paraná

Quarta-feira, 16 horas, caiu chuva daquelas que já caíram milhares de vezes nas tardes da cidade. Chuva que um amigo chama de amante: ela vem, faz o serviço e cai fora para voltar mais uma vez inesperadamente, bagunçando o coreto da gente. Nunca fica para sempre e nem vai embora definitivamente. Chuva “amante” causa alguma alegria e alguns transtornos. A alegria fica por conta da redução da temperatura e o transtorno é que pega muita gente desprevenida. Sempre há uma cena comovente nas ruas da cidade nas tardes de chuva, nem que seja de alguém se esborrachando na calçada. Naquela tarde eu saí de um edifício na Rua Voluntários da Pátria e me deparei com uma senhora chorando, com máquina fotográfica acima da cabeça e tirando fotos do Instituto de Educação do Paraná.

Tirar fotos de prédio escolar numa tarde chuvosa com um monte de pessoas andando de sombrinhas e guarda-chuvas para baixo e para cima e ainda mais com lágrimas nos olhos não deixa de ser uma cena insólita. Uma cena que poderia ser esquecida. Mas como ela estava na minha frente e o espaço estava apertado, eu perguntei: “Aconteceu alguma coisa minha senhora?”. Quando perguntei as lágrimas rolaram mais fartas e abundantes e em silêncio. A mulher parou de fotografar para limpar os olhos com o indicador e o polegar da mão direita. Quando terminou, confessou: “Estudei nesta escola”. E chorou mais um pouco em silêncio. Eu nunca pensei que o fato de estudar no Instituto de Educação do Paraná levasse alguém às lágrimas numa tarde de chuva.

No entanto a mulher que se chama Odete se recompôs, guardou a máquina fotográfica e disse com os olhos vermelhos e rosto inchado. “Eu tinha tanto orgulho de estudar nesta escola, orgulho de aprender que também resolvi ensinar. Eu tinha tanto orgulho das minhas professoras que resolvi ser uma. Entendeu?”, perguntou ela enigmaticamente e eu sem coragem de dizer que não entendi muito bem, mas desconfiei que o choro e o desabafo se relacionava com a constrangedora situação a que chegou o embate entre um governo despirocado e uma categoria desesperada. Eu desconfio, é uma hipótese, que Dona Odete foi para o interior e há muito não via a escola em que pegou gosto pelo magistério. É de chorar mesmo. Ela pegou e abriu um guarda-chuva e foi embora. Eu tomei outra direção, tomando chuva, naturalmente.