Não canso de dizer: “Soy loco por ti América! Soy loco por ti de amores”

Meio-dia dou de cara com uma dupla mariachi cantando “Jalisco no te rajes” na Rua XV, a poucos metros da Barão do Rio Branco. Um terceiro integrante vende CDs dos artistas, volumes 1, 2 e 3. Não tem clássico mexicano que não esteja representado nos três CDs, de “La calandria”, a “La cucaracha” e a inevitável “Adelita”. Sempre gostei de música mexicana.

Houve um tempo em que o México esteve no Brasil através de filmes e das músicas. Cantinflas, como o ator Mário Moreno era conhecido, era sucesso no país, um Chaplin cucaracha. Passavam-se muitos filmes mexicanos, dramalhões de fazer macho chorar sem sentir dor. E suas mulheres fatais, como Maria Félix, eram terríveis. Ela disse: “É um pouco difícil falar de mim. Falar de mim é complicado porque sou muito melhor do que pareço”.

Só de olhar, a dona matava o cara. Filme mexicano tinha que ter canções. De macho chorão. Ninguém superou Pedro Infante. Junto com Jorge Negrete e Javier Solís, formaram Os Três Galos Mexicanos. Eles fizeram pelo cinema mexicano em seus anos dourados o que Pelé fez pelo Santos Futebol Clube em seus anos dourados.

Infante morreu num desastre aéreo em Mérida. Foi um grande bêbado cantante em seus filmes. A música “No volvere”, gravada por Chavela Vargas, entre outros, transformava as salas de cinema num vale de lágrimas. Eu não sou especialista em cinema e música mexicanos, mas alguma coisa a gente aprende.

Por isto achei que os mexicanos na Rua XV não tinham cara de mexicanos. Achei que os mariachis embora paramentados com sombreros e indumentárias tradicionais, eram peruanos. Por isso perguntei para o sujeito que vendia CDs se realmente eram mexicanos. Ele explicou que um era peruano e outro mexicano e ele era do norte da Argentina.

Ele disse: “No fundo, somos todos latino-americanos cantando e divulgando a música de nosso povo”. Achei bacana o comentário. E como a música era boa, os músicos ganhavam dinheiro honestamente, em pleno meio-dia, cantando de graça para divulgar o trabalho, eu comprei um CD e fui em frente. Afinal, não canso de dizer: “Soy loco por ti América! Soy loco por ti de amores”.

Mais adiante, perto da Boca Maldita, encontrei uma dupla – peruano cantando músicas peruanas e a garota vendendo CDs de música peruana. A minha cota de contribuição latina naquele dia tinha acabado. O que deixou a garota peruana decepcionada. Mas, na próxima vez, quem sabe. Afinal, não escondo de ninguém: “Soy latino-americano e nunca me engano, nunca me engano…”.

Pedro Infante canta “No Volvere”.