Domingo, às cinco da tarde, encontro Miroslaw Kalinowski na frente da Farmácia Nissei da Praça Tiradentes. Numa estica e cara furibunda. Ele vem na minha direção e por um instante eu fiquei em dúvida se marquei encontro com ele e me esqueci, porque Mirão veio agitando os braços como estivesse me cobrando algum vacilo. E como ando meio esquecido eu já fiquei meio cabreiro. Ele disse: “Poxa, cara, cadê as gringas? Não tem ninguém por aqui”. Eu não entendi. Olhei ao redor e não tinha quase ninguém mesmo. A verdade era que a cidade estava quase deserta. E não sabia que as gringas deviam estar por ali.

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Eu olhei para ele. Quando se aproximou estava mais cheiroso que pé de manjericão. Eu fiz duas perguntas de uma vez para economizar: “Que gringas, Mirão, ficou louco? E porque você está nesta estica?”. Ele respondeu primeiro a segunda pergunta: “Por causa das gringas, claro!”. E não dei tempo para ele responder a primeira porque refiz a pergunta: “Que gringas?”. Mirão começou a esclarecer as coisas: “As gringas que iam vir para a Copa. Não tem Copa no Brasil?”. Eu balbuciei que tinha. Aliás, tinha acabado de ver pela televisão na redação do jornal o jogo entre França e Honduras. Três a zero. Ficou fácil depois que o juiz expulsou um hondurenho.

Mirão disse que se preparou para conquistar uma gringa na Copa. Ele tinha preferência por holandesa, alemã, italiana ou americana. Uma daquelas bonitinhas que a televisão mostra nos estádios, com sorriso encantador e camisa de seus países. Eu perguntei: “Você não confere as tabelas da Copa, Mirão? Estas seleções não vão jogar em Curitiba. Quem vai jogar em Curitiba é a Espanha”. Ele não se abalou: “Muito bem, cadê as espanholas?”. A conversa sem pé nem cabeça me irritava, principalmente porque eu estava cansado e voltava do trabalho. Eu disse tentando encerrar o assunto: “Não sei. Vai ver que elas acharam uns caras mais bonitos que você”. Ele não gostou: “Você está de brincadeira comigo?”. Eu disse que era brincadeira e não sabia onde as espanholas se esconderam.

Eu fiquei com pena de Mirão. E disse: “Vamos embora. Eu acho que elas não vão aparecer hoje na Praça Tiradentes. E você vai perder o ônibus”. Ele foi comigo e pegamos o Barreirinha. Ele foi chateado e dizendo que Curitiba não estava com cara de sede de Copa do Mundo. E resmungou: “Eu pensava que ia ser uma festa bacana, cheia de mulheres de outros países querendo namorar um cara bacana que nem eu, aquela alegria e que fosse uma oportunidade de eu namorar uma garota diferente. Mas eu não estou achando graça. Tem festa em todos os lugares, menos aqui”. Ele balançou a cabeça e disse: “O único movimento diferente que eu vi foi de uns negão falando uma língua estranha pelo celular”. Eu disse: “Era crioulo”. Mirão me olhou com cara de raiva: “Eu sei que eram crioulos!”. Eu disse: “Eles são do Haiti. A língua que falam se chama crioulo”. Ele me olhou sem acreditar: “Você me gozando, não é?”. Eu disse que não e ele resmungou: “Eu não sabia que o Haiti estava na Copa”. Eu desisti. E Mirão não estava interessado nos haitianos.

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Eu desci no ponto da Medianeira, na Anita Garibaldi. Mirão ficou no ônibus de cabeça baixa. Um polaco triste estava indo embora para a Barreirinha. E fui embora pensando que aquela conversa com Mirão era a absurda. Que ele estava de brincadeira ou tomou alguma coisa estranha e ficou alucinado. Aí, quando eu chego em casa, eu achei que ele poderia realmente ter criado uma expectativa diferente para esta Copa. Afinal, tem maluco para tudo. E eles fazem uma confusão danada. Como o torcedor chileno que chegou em Curitiba com a bandeira do Chile, querendo saber onde ficava o estádio porque queria assistir o jogo. Só que o Chile estava em Cuiabá. Cidade que ele não sabia onde ficava. Pelo menos Mirão não perdeu tanta grana – roupas bonitas e perfume além de não serem tão caros, podem ser usados para conquistar uma polaquinha da Barreirinha. Já o chileno, coitado, se ferrou de vermelho, azul e br,anco.