Feitiço estava no Bar do Bruno contando vantagem. Quando me viu, disse que leu reportagem que fiz com Zé Roberto, ídolo de Atlético e Coritiba. Acho que não leu e falou para contar alguma vantagem. E era. Disse que foi amigo do Zé. E para eu não duvidar, contou: “Zé era bacana, mas terrível. Namorou minhas três primas. As três”. Namorar é maneira de dizer. Esta a glória de Feitiço. As três primas dele, Mariluci, Marineide e Marinalva, foram namoradas de Zé Roberto. Namoradas, maneira de dizer, claro.

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Três loiraças. Quando Zé viu uma, se interessou pela trinca. Fica a versão de Feitiço, porque Zé não abre a boca. É elegante. Quando perguntei sobre seus casos amorosos ele saiu pela lateral e disse encerrando o assunto: “Amigas. Apenas amigas. O pessoal fica falando coisas. O povo fala muito”, disse a respeito da fama de mulherengo. Um cavalheiro o cara. Feitiço, meio alto, deu risada de estremecer o Bar do Bruno. E fez revelações sem medo de falar, porque uma prima já morreu, a outra casou e mora no Paraguai e a terceira está velhinha.

“Amigas o catzo! Zé ficava doido quando via loira. E minhas primas eram de primeira”, disse com a convicção de quem estava na área quando o momento histórico aconteceu, no começo dos anos 70. “Esta minha glória”, disse, querendo dizer que foi amigo do Zé. Não dava para duvidar. Feitiço conheceu Zé Roberto, que era seu ídolo no campo e que por sua vez idolatrava as suas três primas na cama. E aí outras pessoas que estavam no bar desandaram a contar pequenas glórias. Fiquei impressionado como cada uma tinha a sua.

Só ficou faltando Zeferino. Todo mundo olhou para ele com cara de piedade. Zeferino não tinha glória. Zeferino saiu de seu canto e se aproximou do balcão, serviu da garrafa de aguardente de Feitiço, virou a branquinha no copo e depois na garganta, sem direito a gole do santo, que já estava de pileque com tantos goles que os frequentadores do bar davam para ele.

Depois disse, erguendo o indicador para o teto, como pastor: “Vocês falam em glória. Glória teve minha mulher que é cabeleireira e cuidou do cabelo da Glória Kalil, a mulher mais chique do Brasil”. Gol de placa. Todo mundo ficou besta. Ninguém sabia quem era a dona, mas a conversa mixou. Zeferino me contou a mesma história e disse que a Glória no caso era a Menezes e não a Kalil. Mas em todo caso, uma grande Glória, do mesmo jeito.

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