Bambu chegou ontem com um papel e disse: “Quer se divertir. O endereço está aqui”. Rua Monsenhor Celso, número tal, segundo andar. Na hora lembrei o tango: “Corrientes 348, segundo piso ascensor”. E também de que a mesma moça que lhe entregou o papel me entregara outro igual há alguns dias. Isto não chega a ser novidade. Tem sempre tem gente entregando estes reclames. Homens e mulheres. Tem loira alta, cara de professora que desistiu do magistério, tem moço baixo, encontrei um sujeito com cara de Zé Trindade. Cara de cafetão. Mas hoje não se usa mais este nome. Deve empresário do ramo de entretenimento sexual. A moça baixinha não se contentou em entregar. “Olha, vai lá dar uma conferida nas meninas, sem compromisso. Vale a pena!”.

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O endereço era o mesmo. Ela insistiu: “Segundo andar. É só apertar a campainha e entrar que será bem atendido”. Ela me encarou como esperasse que eu desse meia volta para conferir. Eu disse obrigado e fui em frente, temeroso de a mulher me pegar pelo braço e me arrastar para o apart-bordel no centro da cidade. Achei que não fosse desistir. Eu me afastei e metros adiante um homem de cinquenta anos se aproximou: “Se quer diversão, não caia na conversa mole dela”. Eu estava esquecendo a abordagem e ele me fez voltar ao assunto: “Eu não vou cair. Eu quero ir para casa porque estou cansado”. O homem: “Faz bem”. Ele disse alguma coisa, mas não ouvi porque um pregador evangélico na esquina da Rua XV com a Rua Monsenhor Celso berrou: “Ele está te esperando. O que você faz aí? Vem para os braços do Senhor!”.

Como o homem usava caixa de som, a voz abafou a do estranho. Quando o pregador parou para ganhar fôlego, eu disse: “Eu não ouvi direito”. O estranho falou: “Eu disse que eu fui lá. Tremenda fria. Rapaz eu fiquei constrangido”. Bem, eu queria ouvir a história dele. E disse: “Vamos sair daqui que o pregador vai berrar de novo”. O pregador berrou: “Volte, que o Senhor te espera para salvar a tua alma”. Fomos em direção das Casas Pernambucanas. A voz do pregador ficou distante. Eu perguntei o que aconteceu no “apartamento das meninas”. O cara se apresentou, disse que era o Manduca. Ele contou que foi “dar uma conferida sem compromisso”. Eu pensei: “E você caiu nessa?”.

O homem disse: “Fui bem recebido”. Ele disse que foi conhecer o ambiente para voltar outro dia. Mas não foi o que aconteceu: “Apareceu uma dona irritada que me chamou de tio e perguntou que negócio era aquele de conferir. Aqui não é zoológico!”. O aviso foi o suficiente para ele perceber que entrou numa fria. “Sabe rapaz, o que me deixou revoltado foi ela me chamar de tio. Me chamar de tio é o fim da picada. Eu não gosto”, disse. A história ficava estranha. Eu perguntei: “E o que você fez?”, disse usando “você”, porque se eu o chamasse de senhor ele poderia não gostar. Além disso, ele me chamou de “rapaz” e eu tinha que retribuir a gentileza. Ele disse: “Eu fiquei nervoso e disse que eu não era tio de ninguém e muito menos de prostitutas”. Resultado: elas não gostaram e aí o tempo fechou.

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Apareceu um sujeito dizendo que Manduca podia ser cliente, mas não podia ofender as meninas. Foi aí que apareceu uma dona diplomática chamada Cibalena. Ela disse que a Rosicleide chamava todo mundo de tio. Até o tio dela. E fez uma proposta: “Não se estresse. Faça programa bacana, paga trintão, tome cerveja e pronto”. Manduca não queria fazer programa. Cibalena disse: “Então vamos ver o jogo Inglaterra e Itália. Vai ser um jogão”. Manduca pensou na cerveja e pensou que a proposta encerrava a confusão. “Quanto eu pago?”, perguntou. “Vintão com direito a duas cervejas, tá bom?”, perguntou Cibalena. Manduca disse: “Fechado”. Eu perguntei: “E daí? Como terminou?”. Manduca respondeu: “Eu não fiz programa, mas assisti um jogão. Cibalena manja mais de futebol do que qualquer ex-jogador e comentarista de televisão. Fiquei besta”. Ele disse que se o Brasil passasse para as oitavas ele ia ver o jogo de hoje com a Cibalena no apart-bordel. E acho que ele vai.