Não tem lugar melhor para uma viagem no tempo que o segundo andar da Biblioteca Pública do Paraná onde ficam os jornais antigos. O mais interessante é ver a relação com o espaço urbano. Como tinha terreno barato naquele tempo! Mesmo levando em conta o poder aquisitivo daquela época e o de hoje. E a melhor maneira de conferir isto é vendo os anúncios em jornais. Anúncios que eram chamados de reclames. Em 1911, por exemplo, o centro da cidade estava cheio de terrenos à venda, a preço de banana – metáfora para pechincha. A Casa Schmidt, na Praça Tiradentes, número 6, oferecia 350 lotes no quadro urbano da cidade. Eram lotes em sua maioria com 20, 22 e 24 metros de frente, em ruas privilegiadas como Marechal Floriano Peixoto, Alferes Poly, 24 de Maio e outras, cujos nomes seriam trocados ao longo das décadas seguintes, como a Ivahy, Vicente Loyola, 5 de Maio, Almirante Gonçalves, Ratcliff (hoje Desembargador Westphalen), Nunes Machado, Dr. Lins e Montevidéu.

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Sabe quanto custavam estes terrenos? “Bagatela a partir de 100$000 (Cem réis) cada”. E era bagatela mesmo. Veja a comparação: o Sr. Francisco Chagas, da Rua Visconde de Guarapuava, 105, recompensava em 5$000 quem trouxesse de volta o seu cavalo baio encarnado, com crina e cola branca, meia tosada. O baio fugiu com outro cavalo de focinho escuro, crina tosada e cola preta. Era um baio de estimação. Pois bem, com vinte cavalos era possível comprar um lote no centro da cidade. Os dois anúncios, do terreno e do cavalo, foram publicados no mesmo dia: 2 de janeiro de 1911, no Diário da Tarde. Este jornal de propriedade de Celestino Junior tinha redação e oficinas na Rua 15 de Novembro, número 36 (antigo 86-A).

As imobiliárias não tinham este nome. Elas eram casas, como a Schmidt e como hoje tinham a concorrência de vendedores avulsos, proprietários que não queriam pagar taxa de corretagem: “Vende-se a casa número 43 da Praça Carlos Gomes, na Rua Primeiro de Março, a um minuto do Banco do Paraná. A casa tem três portas de frente e é quase nova. Tratar-se na mesma”. Não havia como hoje, cadernos de classificados. Os reclames muitas vezes vinham em meio às notícias. Mas, na época, os negócios de veículos também eram anunciados nos jornais: “Compra-se uma carroça reforçada para transporte de toras”. Quem tivesse o veículo acima descrito poderia comparecer na loja Macedo & Soares, na Praça Tiradentes, 30. Cavalos também eram vendidos pelos jornais.

A Casa Dona Joanita, recorria a ousado lance de marketing. Esta empresa situada na Rua Barão do Serro Azul, 4, anunciava que distribuía vales com direito a brindes que seriam entregues no final do ano. Os profissionais liberais não eram bobos: sabiam que a propaganda era a alma do negócio. Quando o cirurgião dentista, Sr. Virgolino Brazil, autor de trabalhos modernos e garantidos, todos a preços módicos, mudou de endereço, da Praça Osório número 23 para a Rua 15 de Novembro, número 5, num sobrado, a solução para comunicar a ampla clientela foi publicar na primeira página do jornal. O Sr. Brazil trabalhava das 8 às 11 e das 13 às 17 horas. O intervalo era para almoço em sua residência, na Rua Aquibaban, 99. Ele era um dos quatro dentistas que anunciavam. Os outros eram Max Wreschner, Jorge Lertner e o Dr. Emerson, dentista norte-americano que atendia num sobrado na esquina da Floriano Peixoto com 15 de Novembro, número 37.

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Preços módicos era uma expressão mágica para atrair compradores. O maestro Bernardino Bonacci, diplomado pelo Real Instituto Musical de Florença, na Itália, dava aulas de piano, harmonia e flauta a domicilio por preços módicos. Era só contatá-lo na casa de música D’Alô & Cia, na Rua Marechal Floriano Peixoto, 19. Já em 1911, começava a ganhar destaque nas páginas dos jornais anúncios para espetáculos cinematográficos no Cine Odeon e outros que ainda eram chamados de teatro. As películas vinham em quatro, seis ou oito blocos. Este era divertimento que veio para ficar até o fim do século. O século acabou e ele ainda está por aí. O ingresso não é tão caro. Mas os terrenos, hoje, custam o olho da cara.         ,