Já se escuta a nostalgia, de uma lira a soluçar. Por quem sonha Ana Maria?

Eu esperava um telefonema importante ontem de manhã, que nunca vinha. E como peguei a terceira gripe em menos de quarenta dias, um recorde, resolvi fazer inalação enquanto esperava, para não ficar tossindo o dia inteiro, como aconteceu quando eu tive a gripe antecessora. O duro era o barulho do inalador que impedia de ouvir o telefone tocar. Decidi não esquentar a cabeça e fiquei relaxado me inalando, quando tive a impressão de que o telefone tocava. Desliguei o inalador. Era o telefone. Pulei da cama e corri para atender ao telefone na sala. Não era o telefonema que eu esperava. Era outro que nem imaginava receber. Eu disse alô e o sujeito do outro lado perguntou: “Bom dia, eu posso falar com a Ana Maria?”.

Parei de fazer inalação para atender um cara que queria falar com Ana Maria. Que eu nem sabia quem era. E nem sabia o que ele queria com ela. Em vez de ser malcriado e dizer qualquer palavrão e desligar o aparelho, eu respondi polidamente: “Sim, você pode falar com a Ana Maria. Se me ligou para pedir autorização para falar com a moça, o que eu posso lhe dizer é que eu concordo”. Alguns segundos de silêncio. A voz ficou irritada do outro lado: “Mas ela está aí?”. Eu respondi que não sabia. Ele queria saber por que eu não sabia e eu disse que eu tenho dois filhos. E às vezes acontece de uma namorada ou amiga de um deles dormir em casa. Eles não gostam que eu pergunte o nome de suas amigas.

Eu perguntei se ele queria que eu procurasse para ver se a Ana Maria estava em casa. O cara no outro lado da linha perdeu a linha: “O senhor é um mal-educado. Eu quero falar com a Ana Maria e o senhor vem com gracejos. Podia dizer apenas que Ana Maria não mora aí”. A minha polidez irritou o sujeito. Eu argumentei: “Meu caro, você não ligou para perguntar se Ana Maria mora aqui. Você ligou para saber se eu permitia que você falasse com ela. E eu concordei, Onde está o problema?”. Ele desligou o telefone abruptamente. Claro, a minha lógica era infernal. Eu desliguei e voltei para o inalador. Fechei os olhos e me veio à cabeça uma música graciosa de Juca Chaves, sucesso nos anos 60: “Na alameda da poesia, chora rimas o luar, madrugada e Ana Maria, sonha sonhos cor do mar, por quem sonha Ana Maria, nesta noite de luar?”. Não era noite de luar, mas Ana Maria mais uma vez aprontava. Pobre rapaz do telefone. 

Se você quer conferir a música “Por quem sonha Ana Maria?” do menestrel Juquinha, basta acessar o video abaixo.