O nome dela é Dona Dirce. Quando chego de manhã, o café já está no canto, na curva do corredor, quentinho. Ao meio-dia ela leva as garrafas vazias e no começo da tarde, sempre por volta das 14h30, lá vem ela com as garrafas de café cheias. Iguais a ela, tem dezenas, centenas e milhares de outras mulheres – às vezes homens – em dezenas, centenas e milhares de empresas pelo Brasil afora. São chamadas quase sempre de Tia do Cafezinho. São tão presentes que o anedotário político em Brasília cunhou um termômetro para averiguar o prestígio do ocupante de um cargo: “Quando a Tia do Cafezinho não se preocupa em levar café para o chefe, é que ele perdeu a autoridade ou importância e corre o risco de perder o cargo. E aí, um abraço pro gaiteiro”.

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Se escrevo sobre a Tia do Cafezinho é porque hoje, 14 de abril, se comemora o Dia Internacional do Café. O produto é marco na história do Brasil e do Paraná. Foi ele que tirou o estado de condição periférica e o levou para próximo dos que estavam no pelotão dianteiro, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nos anos 60, o café era importante, se não o maior, item de nossa pauta de exportações. Com as geadas dos anos 70, o café sumiu do Paraná deixando-o meio órfão e procurando novas atividades econômicas para ocupar o lugar de honra que foi do café. Mas o Brasil ainda é o maior produtor mundial. E a rubiácea ainda traz bilhões de dólares para o País.

E como nossa relação com o café se resume à condição de consumidor, vamos deixar de lado quem ganha dinheiro com isso e falar de quem adoça o nosso bico todos os dias, que é a Tia do Cafezinho, onipresente nas empresas e repartições públicas do país inteiro. Porque tomar café é hábito mundial e também nacional. Houve um tempo em que tomar café era parte do ritual de fumar cigarro. O fumante tomava cafezinho antes para acender o cigarro depois. O hábito de fumar é nocivo para a saúde, já foi largamente comprovado, mas o hábito de tomar café continuou na agenda mesmo sem estar agora atrelado ao cigarro. E aí vem a pergunta: o café faz mal ou bem à saúde?

Já recebi tudo que foi opinião. Há quem jure que a cafeína pode ser aliada da saúde. E por uma série de fatores. Ela tem ação antioxidante e estimula o sistema nervoso central, responsável pelo aumento do desempenho e energia cerebral. Estudo feito pela Universidade Johns Hopkins em 160 pessoas que não bebiam ou não consumiam café revelou que elas apresentavam menor rendimento que outro grupo de pessoas que consumiam o produto. Outro estudo da Universidade do Sul da Califórnia concluiu que o consumo de café previne o tipo mais comum de câncer no fígado. E Harvard University concluiu que quem toma café tem tendências menores ao suicídio, porque a bebida age como antidepressivo ao aumentar a produção de neurotransmissores no cérebro, como serotonina, dopamina e noradrenalina.

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Eu sempre fico com um pé atrás com estes estudos. O meio acadêmico virou uma guerra para provar isto e aquilo. Um sujeito fala que focinho de porco é tomada. Não demora muito e lá vem outro e diz que focinho de porco não é tomada. Um amigo, Hugo Santanna, tinha mania de dizer: “Ontem veio um estudo que dizia que este negócio faz mal à saúde e hoje veio outro estudo dizendo que ele faz bem. Este pessoal está querendo enlouquecer a gente”. Ele não deixava de ter razão. Sobre o café, eu não conheço ninguém que virou dependente químico de café, não conheço lar desagregado porque o pai de família consumia café, enfim, o café é um hábito social prazeroso e aparentemente sem grandes efeitos colaterais que não seja o de deixar o sujeito mais aceso e com dificuldade de dormir à noite, principalmente se ele tomar muito café depois das 18 horas. Mas é um hábito nacional. E melhor: é de graça, principalmente nas empresas. Além da água, não conheço outra bebida que seja tão agradá,vel e gratuita quanto o café, embora também tenha água e café para vender em bares e lanchonetes. Portanto, hip-hip-hurra pra Tia do Cafezinho que é o elo anônimo e esquecido na cadeia econômica do café. E o mais próximo de todos nós.