A loira chegou à portaria do jornal e pediu para falar com alguém da redação. Eu desci e ela se apresentou: “Eu sou Valin Friso, a maior repórter investigativa do Brasil e assistente do delegado de Taquara no Rio Grande do Sul”. Ela segurava três folhas de papel toalha de tamanho gigante entre as mãos. E continuou a apresentação: “Eu sou casada com Patrick Friso, príncipe da Holanda e irmão do Rei Alexandre, que mora no Castelo de Haia”.

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Já deu para sentir que o caso era grave e tinha conexões internacionais. A loira não era jovem, mas não era de jogar fora. Com pompa e solenidade ela entregou as três folhas e pediu: “Isto aqui é para o senhor levar pessoalmente para o juiz Sérgio Moro”. E antes que eu objetasse, ela acrescentou: “Pode ficar tranquilo. Ele já sabe de tudo. Eu gostaria apenas que o senhor reforçasse o pedido”.

Eu perguntei: “Que pedido?”. Ela respondeu: “O pedido, oras!”. Eu quis saber de que se tratava. Ela esclareceu: “É sobre a evolução do caso lava-jato. O caso lava-jato é café pequeno perto do escândalo dos postos de gasolina. Este sim é maior”. Ela disse que se alguém riscar um palito de fósforo perto do caso dos postos de gasolina o Brasil pega fogo de uma vez por todas.

Valin Friso não esclareceu mais alegando que era para entregar as folhas para o juiz, “porque ele sabe de tudo”. Ela deu meia volta, abriu a porta e foi embora. Eu fiquei com as folhas na mão sem saber se corria para avisar o juiz Sérgio Moro ou se conferia antes para evitar cair em alguma brincadeira. Eu tentei ler aquilo e não entendi nada. Mas parecia algo pesado.

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Era um negócio que envolveria o coronel Paulo Ricardo Cardoso, de Araranguá, em Santa Catarina e seu filho Paulo Ricardo, que foi vocalista da banda RPM. O príncipe Patrick Friso da Holanda nas horas vagas vinha ao Brasil para assaltar e praticar a marginalidade. Ele estava envolvido com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que foi apontado num cadastro do Banco Toyota como “marido legitimo” de Valin Friso.

Claro que tem mais gente graúda envolvida. No entanto, como Valin pediu para não divulgar mais nomes, vou respeitar o desejo. Ela deixou um recado: “Se o leitor quiser maiores detalhes, em termos de exatidão, pode falar com o juiz Sérgio Moro”. Ah, Valin Friso está disposta a falar tudo o que sabe “mediante um bônus pelas informações relevantes”. Depois da delação premiada, vem aí a delação remunerada. O pior ainda não começou. 

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