“Esta menina ainda dá um bom caldo”

Eu não fui amigo do Candinho. O Mussa José Assis, que todo mundo com um mínimo de conhecimento de jornalismo no Paraná sabe se tratar de um dos maiores que o estado teve, que era amigo dele. Candinho era da Velha Guarda. E ele já se foi. Mas quando era vivo nunca deixou de dar um pulo na redação das Mercês. Ele aparecia assustado, procurando. E procurava Matilde. Que era elegante, bonita e amiga de todos. Candinho olhava Matilde como a gente olhava as divas do cinema, Rita Hayworth, Ava Gardner e Monica Bellucci. Com ardor e desejo. Ela via Candinho como as mulheres veem barata no banheiro: com pavor.

Era só Candinho apontar na entrada da redação, que ela sumia pela porta dos fundos e só retornava quando Candinho ia embora. Ele era doido por ela que tinha um radar de fazer inveja a Agência Espacial dos Estados Unidos. Quando ele estava por perto, ela sentia no ar e evaporava. Enquanto ela estava no providencial e breve exílio, Candinho se achegava perto de mim. A primeira pergunta era teta, fácil de matar: “E a Matilde, cadê a menina?”. Para salvar a amiga, a gente mentia. Mentir é pecado, mas nem sempre. “Matilde está com dor de cabeça e não veio hoje”. Não é só mulher que usa a desculpa da dor de cabeça. Então Candinho revirava os olhos e lembrava a primeira vez que a viu.

“Ela subia as escadas e quando me virei, eu vi aquele par de pernas”, dizia. Fazia uma pausa. Fechava os olhos. Abria os olhos, revirava-os e dizia: “Não tenho palavras até hoje para descrever aquele momento”. Esta frase é floreio perto das outras que se seguiam: “Ela não era de se jogar aos cães, meu jovem. Escreva o que eu te digo. Ela não era de se jogar aos cães”. E se, enquanto isso, passava alguma mulher que fosse atraente, Candinho cochichava: “Esta aí ainda dá um bom caldo, meu rapaz!”. Ele tinha uma coleção interminável de galanteios dos anos 40 e 50. Galanteios que tinham sobre as moças o efeito de um soco do Mike Tyson. Antes de ir embora ele me deixava um apelo: “Diga para a menina que o Candinho esteve aqui”. Quando tínhamos certeza de que ele se foi, alguém avisava Matilde que voltava assustada. E antes de voltar a trabalhar ela dizia: “Eu simplesmente não suporto aquele homem”.