Esperando as naves salvadoras do comandante Aziran

Não foi uma nem duas vezes que me perguntaram sobre a origem das histórias que conto aqui: “Mas isto aconteceu?”. Eu respondo que sim, alertando que na maioria das vezes altero os nomes para não revelar os reais por razões óbvias. Muitos casos são acrescidos de detalhes que aconteceram com outras pessoas, criando uma terceira história com base em duas reais. Sem contar narrativas que me foram feitas por amigos ou desconhecidos. Numa destas, embora mudasse os nomes, um sujeito me ligou durante uma semana querendo saber quem foi que me contou tal caso que se encaixava com o que lhe aconteceu. Podia ser ele o personagem ou ser coincidência. Depois disso, por prudência, procurei ser menos fiel aos detalhes de casos que podiam redundar em desagrados. Mas os casos têm sempre ponto de partida real embora alguns pareçam simplesmente absurdos.

E muitos episódios eu presenciei nos meus anos de jornalista. Como o do comandante Aziran que tinha a missão de evacuar a Terra em 1992. Sério. Em julho de 1991, eu passava pela Rodovia do Café, entre Maringá e Mandaguaçu e fui atraído por uma comunidade no lado esquerdo da estrada, sentido de quem vai para o sul. Eu fui informado de que ali se reuniam pessoas escolhidas para ir embora do planeta, que seria destruído em poucos meses. O prazo limite seria o fim de 1992. Aquele pessoal foi escolhido para dar sequência ao projeto humano em outro planeta e outra galáxia, cujo nome não foi revelado. O comunicado foi feito para Dona Neide pelo comandante Aziran da unidade Ashtar, de um planeta distante. A nave ou frota do comandante Aziran estava estacionada num ponto que Dona Neide não revelou, por medida de segurança, distante 1 bilhão e 300 milhões de quilômetros de onde nós estávamos.

O comandante ia entrar em ação para salvar o povo escolhido momentos antes da hecatombe que seria assim: o planeta ia entrar no interior de uma nuvem de poeira galáctica composta de gases venenosos e com um campo eletromagnético que ia fazer um escarcéu danado com o planeta. A travessia da nuvem ia durar três dias. Não ia sobrar para ninguém, com exceção do pessoal de Mandaguaçu e, talvez, mais gente espalhada pelo planeta para quem o comandante Aziran mandou o seu recado. Aziran transmitiu o manual de sobrevivência. As pessoas da comunidade, quando chegasse a hora, deveriam ficar em casa – na comunidade, que parecia um condomínio cheio de sobrados. As casas eram vedadas, para não entrar poeira galáctica.

A casa deveria ter pouca mobília e não deveria ter objetos na parte exterior para evitar que fossem atirados contra as casas pelos fortes ventos e chuvas furiosas provocadas pelo campo eletromagnético da nuvem galáctica. Quando eu estive lá, alguns sobrados ainda estavam sendo construídos. Os humanos escolhidos deviam armazenar alimentos básicos como biscoitos, bananas, castanhas, aveia, chocolate e nem pensar em bebida alcoólica, porque o álcool consome o oxigênio do sangue. Cigarro também não. As pessoas teriam que usar luvas de plástico para não ceder ao desejo de se coçar e causar feridas na pele quando a gandaia apocalíptica começasse. As naves chegariam num piscar de olhos. O comandante anunciou: “A raça humana será retirada, levitada para melhor dizer, pelos raios de nossas naves menores. Estas transportarão as pessoas às naves maiores, onde há amplo espaço, acomodação e abastecimento para milhões de pessoas”.

Eu visitei as casas na comunidade e fui informado de que havia túneis e galerias subterrâneas que se intercomunicavam. Não me foi dado acesso aos túneis. Eu saí dali impressionado, embora achando que aquele pessoal estivesse meio pirado. O certo é que dois meses depois eu me mudei de Maringá para Londrina. E seis anos depois eu me mudei para Curitiba. E até hoje não sei se as naves do comandante Aziran apareceram para evacuar Dona Neide e seus seguidores. De uma coisa sei: a Terra não foi destruída, pelo menos totalmente, da maneira que os integrantes da comunidade anunciavam. E nem no prazo marcado. E não sei se as naves do comandante Aziran ainda estão lá em cima.