“Então foi por isso que ele perguntou se eu urinava bem”

A mulher entrou no consultório do médico com uma sacola. O médico olhou a sacola e disse para ela colocar num canto. Ela disse que eram exames. Ele disse que não tinha importância. Ela perguntou: “Tudo bem, doutor?” O doutor disse que estava bem e pediu para a mulher sentar na cadeira diante de sua mesa. Depois que ela se sentou, ele perguntou qual era o problema. Ela respondeu que andava com os mesmos de sempre e por isso trouxe os exames para ele dar uma olhada. Ele disse que por enquanto não queria ver os exames, que ia fazer algumas perguntas, porque os exames ele ia ver depois, se fosse o caso. Ele disse: “Eu preciso saber algumas coisas antes. É procedimento padrão, a senhora entende?”. Ela disse que entendia. E ele começou a fazer perguntas.

A primeira pergunta que fez foi: “A senhora urina bem?” A mulher se assustou e respondeu meio indignada: “Claro, doutor! Imagina! Eu urino muito bem”. Mas o médico insistiu: “De manhã quando a senhora vai urinar não tem nenhum tipo de ardência?” A mulher ficou um pouco constrangida com a insistência do médico em sua micção, mas, mais uma vez, respondeu que urinava muito bem. O médico olhou a mulher. Ele falou para ela ir para uma maca ao lado de sua mesa, ela foi e ele tirou a pressão arterial. Enquanto media a pressão ele perguntou se ela tinha problemas de pressão: “Ela disse que não”. Ele pegou o estetoscópio e conferiu as batidas cardíacas. Balançou a cabeça e murmurou: “A senhora está bem, Dona Leonor”.

A mulher olhou de cara feia para o médico. Se ela estivesse bem não estaria consultando um médico, naturalmente. Ele perguntou se ela tinha pessoas com problemas renais na família. Ela disse que não sabia e ele disse que ia precisar verificar como estava a creatina. A mulher disse: “Não tem nenhuma cretina na minha família”. O médico riu e achou melhor não espichar conversa sobre a creatina. E fez mais uma pergunta: “Não tem ninguém com diabetes na família?” A mulher disse que não. O médico voltou para a mesa e disse para a mulher que, em primeiro lugar, ia pedir alguns exames de sangue, mas que, a princípio, ela não precisava se preocupar porque depois de um exame superficial ele apostava que não havia nenhum sintoma de problema renal grave.

A mulher nem fez cara de quem ficou feliz. Ela apenas perguntou, mostrando a sacola num canto: “E aqueles exames ali? O que eu faço com eles?”. O médico perguntou, com um compreensivo e benevolente sorriso: “Este monte de exames que a senhora tem ali são de quê?”. A mulher abriu os braços como pudesse ser a coisa mais óbvia do mundo: “Da cabeça, claro!”. O médico sorriu mais uma vez compreensivo e disse: “Vamos fazer o seguinte, primeiro a senhora me traz os exames que eu pedi, para verificar se há algum aumento de ureia, creatina, estas coisas. Depois a gente vê os exames da cabeça. Pode ser assim?” A mulher concordou.

Ela saiu da sala do médico com mais uma lista de exames, mas não se preocupou com isso porque o plano de saúde cobria. O que ela não entendia era o que a ureia e a tal da creatina, que ela pensou que fosse cretina, tinham a ver com a sua cabeça. Ela passou pela secretária e pediu o cartão do médico, para ter o número do telefone, em caso de precisar ligar para ele com urgência. A secretária deu o cartão e ela leu o nome do médico e a especialidade: nefrologista. Ela olhou para a secretária e perguntou: “O que é um nefrologista?” A secretária respondeu: “É um médico que trata dos rins. O médico que acabou de consultar a senhora”. A mulher ficou com o cartão na mão, boquiaberta e, depois, murmurou: “Então foi por isso que ele perguntou se eu urinava bem. Eu pensei que ele fosse um neurologista. Por isso que coitado nem quis ver os meus exames da cabeça”. E saiu lentamente e perplexa do consultório. Antes de fechar a porta ela disse para a secretária: “Bem, pelo menos agora eu sei que os rins estão funcionando normalmente. Foi o que ele disse”.