Perry White dos Santos, careca, baixo, feio e sensual. Jornalista que nas horas vagas atuava no tráfico de escravas brancas, tanto na importação quanto na exportação. Quem viveu nos anos 80 e não se lembra dele? Signo de virgem com antecedentes no 25o Distrito Policial. Lua na Casa da Mãe Joana. Com aquela cicatriz na testa resultado de uma operação de apendicite no Hospital de Base de Brasília, o cara era conhecido em qualquer biboca do Oiapoque ao Chuí. O sotaque americano com forte acento niteroiense fazia dele tipo inesquecível nas páginas das Seleções Reader’s Digest, embora indigesto em outras publicações. Não houve apreciador do poeta J. G. de Araújo Jorge como ele. Ainda bem.

continua após a publicidade

Um dia na ponte aérea Rio-Niterói venci a timidez e perguntei para o grande boss do jornalismo carioca, presidente das Organizações Planeta: “Qual é o seu filme preferido, mestre?”. Ele deu uma baforada no charuto de maconha que comprou em Havana e respondeu: “Tá na cara que é Bruce Lee e Mazzaroppi contra o Convento das Freiras Lésbicas Assassinas”. Um homem profundamente religioso cujo guia era Wilton Franco, mas, com certeza, dependendo da oferta, faria negócio com o pastor Jonas Gordurinha. Por falar nisso, o pastor pode falhar, mas Perry White nunca falhou. Foi o que me contou a Baronesa Perry White, sua esposa. Interrogado em Washington (DC) pelo Comitê de Atividades Antibrasileiras, White disse sem pestanejar: “Sim, sou mezzo comunista, mezzo capitalista e mesopotâmico”. E encerrou o assunto.

A última vez que o vi, ele estava com Sophia Loren e eu com Mônica Bellucci. Pra variar sempre andamos em boas companhias, Air France, Lufthansa, Alitalia e outras categorizadas. Altamiro Carrilho tocava uns boleros para fora do bar. Eles estavam bêbados. Foi numa praia deserta em Guaratuba. A lua estava cheia, que lua também se enche da gente. Uma lareira crepitava longe dali. Uma boa garrafa de Jack Daniels insistia em ficar seca. A Orquestra Tabajara tocava o Hino do Ibis. O Ari Silveira torcia para o Flamengo. O Zé Ganchão, pra variar, torcia para o Palmeiras. Só Mário Fragoso era corintiano, que ninguém é perfeito. Bailarinos de fraque desciam as escadarias. E no final da história o pano caía e nele estava escrito The End. Pensei tudo isto na manhã de ontem. E perguntei para os meus botões: Por onde andará o meu amigo Perry White? Os botões não sabiam. E eu muito menos. (Perry White foi um colunista fictício da Folha de S. Paulo, cujos artigos irreverentes e absurdos eram assinados pelo pessoal d’O Planeta Diário)

continua após a publicidade