Somente depois que Tiago Madison se aposentou e se recolheu ao sítio em Mandirituba, foi que Borracha contou o segredo do famoso repórter policial dos anos 60 aos anos 90. Borracha disse no tom debochado que usava de vez em quando: “Mosquito era fogo. Ele era o amigo mais certo das horas incertas”. Como ninguém entendeu e o apertou, Borracha teve de contar o segredo do velho Mosquito, como também Madison era conhecido nos bastidores do submundo do crime em Curitiba, atuando no rádio com seu programa “Cadáveres não falam” e num jornal popular onde tinha uma coluna chamada “O defunto não manda recado”. Mas antes de contar, Borracha ainda tentou sair pela tangente com a desculpa esfarrapada: “Vão dizer que vocês não sabiam?”. Ninguém sabia. E agora queria saber. 

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Mesmo depois de aposentado, Mosquito trabalhava. Chefe e colegas achavam amor à profissão, exemplo de dedicação e um monte de adjetivos e qualificativos enobrecedores. Na realidade, segundo Borracha, o negócio de Mosquito eram as viúvas da cidade. “Eu acho que Mosquito foi um dos maiores abatedores de viúvas de Curitiba na segunda metade do século 20”, exagerou Borracha, embora também corresse o risco de estar certo, porque não é todo mundo que se especializa na difícil arte de conquistar uma viúva. Até porque, depois de conquistar, não faz sentido deixá-la ao relento, o que elimina a chance de novas conquistas. Mosquito cobria homicídios de olho na viúva do finado, para ver se era bonita, se estava carente, informações de utilidade para decidir se investia em nova visita à mulher. A maioria das viúvas estava fora do exigente critério e não foi abatida, como se dizia no antigo jargão chauvinista.

No entanto, como sempre teve muitos homicídios na cidade e a capital paranaense sempre teve produção expressiva de viúvas bonitas, sobrava número razoável para Mosquito atuar. “Se ele se interessasse, ele era atencioso com a viúva, não descrevia o finado com palavras ofensivas em seu programa e na coluna. Ele ligava para a viúva para saber novidades e uma semana depois, a pretexto de fazer matéria para o programa de rádio, voltava à casa da viúva”, contou Borracha. A segunda visita era fundamental. Pois dela dependia as outras. “Se a viúva era receptiva, mandava entrar e tomar café e falasse do marido com saudade que precisava ser de alguma forma dirimida com afeto, era batata”, disse Borracha. Ela não sabia, mas Mosquito sabia que mais uma viúva caiu na teia do sedutor implacável. 

Borracha disse que Mosquito ajudou muitas viúvas a superar o trauma da perda de um ente querido, abatido a tiros numa madrugada. Os amigos perguntaram: “Mas, ele não se envolveu com nenhuma?”. Este o segredo. Mosquito estava na área para ajudar a viúva a sair da letargia provocada pela dor da perda do marido. Depois que elas saiam do estado doloroso, queria alguém mais gabaritado – e não Mosquito, um boêmio incorrigível. Mosquito partia para nova aventura com outra viúva fresca. Depois de Borracha revelar o segredo, o que era insuspeito virou prova incontestável: “Então por isso que ele andava perfumado e de cabelo penteado”, disse um veterano que estranhava o fato de um repórter policial ficar mais cheiroso que manjericão e com aparência de galã. “Agora eu sei por que às vezes ele chegava de homicídio com um sorriso enigmático no rosto. Ele cobiçou a mulher do finado”, disse outro.

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A coisa avolumou de tal forma que Borracha botou um pouco de ordem na avalanche de suspeitas e insinuações: “Calma gente! Do jeito que vocês estão falando dá a impressão de que Mosquito pegou todas as viúvas de maridos assassinados da cidade. Não foi bem assim. Foi só uma pequena parte”, disse preocupado com as repercussões do caso. O veterano jornalista de esportes murmurou: “Ele era o amigo mais certo das horas incertas. O amigo das viúvas inconsoláveis”. E ficou balançando a cabeça, abismado com a revelação. “Que coisa, hein?”, foi o que conseguiu dizer para encerrar a conversa.