Quando pensei que fosse ouvir uma avalanche de críticas depois do jogo Irã e Nigéria, anteontem na Arena da Baixada, principalmente daqueles que pagaram uma grana preta, ouvi o oposto. Parece que vi um jogo e quem foi viu outro. Estava todo mundo com cara de felicidade. Primeira suspeita: achei que a Fifa botou alucinógeno na pipoca que eles comeram e no refrigerante ou cerveja que beberam. Não faz sentido um sujeito esperar vários meses para ver uma partida de futebol de Copa do Mundo, ainda mais uma competição tão cheia de gols como esta no Brasil e ficar contente com um zero a zero mixuruca entre dois times que jogaram mal.

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Está certo que o Irã não tem tradição em Copas do Mundo. Mas se esperava algo melhor da Nigéria. Foi frustrante para quem viu o jogo em casa. Para quem foi ao estádio sobrou emoção. Isto é um paradoxo. A verdade era que todo mundo que conheço e que foi ver o jogo ficou feliz com o zero a zero. No pior jogo da Copa de 2014 até agora. Todos tinham uma opinião quase unânime: “Foi bacana pra chuchu. É o maior evento esportivo do mundo. É uma experiência única. É emocionante estar lá dentro e você saber que está vendo ao vivo uma partida de Copa do Mundo”, disse o Patrick Menezes todo cheio de emoção. Eu que não senti vontade de ir e tampouco achei que perdi alguma coisa, fiquei chateado. Será que perdi mesmo?

Patrick Menezes e Juliana disseram que sim. Os dois foram e eu não fui. Eles disseram que perdi um momento único. Fernando Dahl que não foi também estava animado. Ele chegou ao cúmulo de dizer que viu iranianas na Boca Maldita de fechar o comércio. Fiquei perplexo. As únicas iranianas que vi fechar o comércio foram filhas de um dono de loja de tapetes que trabalham com o pai. Elas baixam as portas da loja depois das 18 horas. Fecham o comércio. Fernando foi erudito: “Elas não são iranianas. Elas são persas. Você sabia que existe diferença entre persas e árabes?”. Eu disse que sabia. Ele insistiu: “Você sabia que o Fred Mercury era persa?”. Eu não lembrava. “Há algo de misterioso e fascinante na cultura persa”, ensinou Fernando, que joga as suas fichas na partida entre Argélia e Rússia.

Achei estranho e perguntei: “Você gosta de argelinas?”. Ele quase babou quando disse: “Sou louco por russa. Desde que li Ana Karenina e vi Doutor Jivago, que sonho com uma russa nos meus braços. Lara Antipova não me sai da cabeça”. Eu observei que Lara Antipova na realidade era Julie Christie, que é inglesa. Fernando não quis saber: “Não interessa. Eu quero conferir se o destino me reservou uma russa. Vai ser neste jogo que resolvo o dilema”. O povo ficou louco! Uma amiga ficou encantada com a simpatia dos nigerianos. “Gente bacana pra chuchu”, disse Matilda ao lado do namorado Nestor, que fala inglês. Nestor, aliás, colocou no Facebook um monte de selfies na Arena da Baixada, com um copo de Budweiser na mão e camisa azul do Brasil.

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Mas voltando ao Fernando, ele disse que quem foi ver Irã e Nigéria sabia que estaria vendo jogo de nível técnico inferior. “Ninguém é bobo. Não tem surpresa. O que vale é a festa. A oportunidade única”, disse. E voltou a falar do esperado jogo entre Argélia e Rússia, no dia 26. Além de Ana Karenina e Lara Antipova, a escolha dele foi motivada por imagens que viu na internet da última Eurocopa. As russas estavam entre as mulheres mais bonitas flagradas nos estádios pelos fotógrafos. “Meu sonho é ficar no meio de um monte de russas. Elas são lindas. Não vejo a hora de a partida começar”, disse. Eu entrei na internet para ver algumas russas e tive de concordar. As russas são bonitas. Eu fiquei pensando: se uma russa invocar com ele, que não fala russo, o que ele vai dizer para ela? “Fernando, o que você sabe falar em russo?”, eu perguntei. Ele pensou um pouco e respondeu: “Acho que sei falar vodka, troica e perestroika”. Eu achei pouco: “Só isso?”. Ele disse que também sabia falar sputnik. Eu não disse nada. Mas com este vocabulário, eu acho que ele vai se ferrar se tentar conquistar uma russa.