E o pau comeu no ônibus por causa de um simples bom dia

Uma manhã ensolarada, temperatura amena, nem Hollywood montaria um cenário tão fantástico. Era daqueles dias que a gente sai de casa com a sensação de que o dia vai ser bacana porque não faz sentido um dia bonito não ser bacana. Fui para o ponto pegar o ônibus. O verdão do Interbairros II não demorou. Coisa rara. Entrei. Estava vazio. Ônibus vazio também é coisa boa, pelo menos para o usuário. Passei a catraca e sentei num banco na frente e fiquei olhando pela janela as pessoas na calçada. No próximo ponto entrou uma senhora certamente tocada como eu pelo dia bonito. Entrou e na catraca cumprimentou o cobrador: “Bom dia! Está um dia lindo”. O cobrador fez um movimento vertical com a cabeça, concordando. Mas a mulher não ficou satisfeita e cobrou uma resposta verbal e não gestual. Ela perguntou: “O dia está bonito, não está?”.

O cobrador repetiu o mesmo gesto e a mulher se enfureceu: “Se está bonito, por que você não responde bom dia? Eu disse bom dia e quero ouvir bom dia. Diga bom dia!”. O cobrador ficou assustado e diante da intimação não disse nada. Se a mulher não tivesse sido tão incisiva talvez ele tivesse respondido, mas como ela intimou com certa virulência ele achou que se respondesse ia dar a impressão para o resto das poucas pessoas que ouviam o estranho diálogo de que era frouxo. Ele fechou a cara e não disse nada. O ônibus parou no outro ponto e mais gente entrou. A mulher não passou a catraca: “Eu não passo enquanto não ouvir bom dia”. O pessoal que estava esperando a vez de passar pela catraca ficou inquieto. Uma velhota meio simpática disse: “Fala bom dia logo e acaba com isso, cobrador”.

O cobrador fingiu não ouvir. O motorista resolveu intervir em solidariedade ao companheiro de ônibus: “Dona, passe logo por esta porra e não estrague um dia que está lindo”. A mulher virou para o motorista e disse: “Toca o ônibus em silêncio que a conversa não é com você”. Encarando mais uma vez o cobrador disse: “Bom dia, cobrador!”. O cobrador não respondeu. Ela disse: “Eu não saio daqui enquanto não ouvir bom dia”. O motorista se enfureceu, meteu o pé no freio, levantou, afastou as pessoas que estavam atrás da mulher e disse: “Bom dia, bom dia, bom dia, bom dia! Está satisfeita?”. E antes que a mulher dissesse mais uma vez que o assunto não era com ele, puxou a mulher e disse: “Caia fora antes que eu chame a polícia”. E levou a mulher para fora do ônibus pela porta que ela entrou. Antes de a porta fechar, disse: “Bom dia! Bom dia!”.