E o elegante e bem sucedido Sr. Oscar foi chorar no xilindró

Depois de 37 anos, eu reli “De Profundis” de Oscar Wilde, escrito na prisão de Reading onde cumpriu pena. A primeira vez que li achei meio frescura do grande escritor irlandes. Mas nesta segunda fiquei espantado com a ingenuidade e como ele se deixou arrastar de forma devastadora pela paixão por um sujeito frívolo. Ele que era um grande observador dos mais variados tipos humanos. Caiu de gaiato e com desfecho cruel: o escritor foi condenado a dois anos de trabalhos forçados pela prática de homossexualismo. Que era crime na época. A história da condenação transita do inacreditável ao absurdo. É a versão mais trágica do envolvimento de Paul Verlaine com o garoto Arthur Rimbaud. Wilde se envolve com Lorde Douglas, um poetinha mixuruca conhecido por Bosie. Garoto mimado, filho do Marques de Queensberry. O escritor satisfaz desejos e extravagâncias de Bosie.

O pai do garoto envia para o clube de Wilde um cartão ofensivo. Instado por Lorde Douglas e contra o conselho de amigos, o escritor apresenta queixa ao Tribunal contra o marquês. Ele se ferra e o marquês abre processo contra Wilde. Além de cana brava vai à falência. Fica na miséria. A história é ainda mais doida levando em conta que Wilde não era otário. O bem-sucedido escritor salta sem escala da prosperidade para a sarjeta. E como diria minha avó: falta de aviso não foi. Os amigos avisaram: “Este tipinho não presta, Oscar”. Mas o Sr. Oscar foi e se deu mal. “De Profundis” mistura mágoa, rancor, ressentimento, lamúrias, pieguice, tristeza e também afeto por Lorde Douglas.

É um livro chato porque acumula lamuria sem fim de amante que se ferrou. Os mínimos detalhes, não as intimidades, são relembrados. Também é chato porque é carta endereçada a uma pessoa e não escrita para nós, leitores. Conferimos de abelhudos. Mas, ao mesmo tempo, como escrita por um grande artista, em muitas passagens é bela e erudita. Eu fiquei em dúvida se ele escreveu o livro para defender a sua obra perante a posteridade ou para sensibilizar o autor de sua desgraça a quem se apresenta como “amigo afetuoso”? Se fosse apostar ficaria com a segunda. Só sei que “De Profundis” para uma carta é extenso e arrastado e para um livro de interesse pessoal demais. No entanto, tem lampejos geniais. Só as observações de Wilde sobre Hamlet valem a leitura. Sem contar estilo e frases soltas. Uma delas talvez explique tudo: “Pensamos poder desfrutar de todas as emoções sem dar nada em troca – mas isto é impossível”.

Oscar Wilde deu tudo o que estimava em troca de algo que não sabia muito bem o que era. Que ele denominou de o amor que não pode dizer o seu nome. Em qualquer tipo de relação emotiva é loucura. Mas o amor é louco. Tão louco que Wilde saiu da cadeia, foi para uma aldeia francesa e mais uma vez se reencontrou com Lorde Douglas em Nápoles. Foi abandonado e seguiu para Paris onde morreu de meningite às 9h50 do dia 30 de novembro de 1900. Antes de morrer recebeu batismo e em seguida extrema-unção. Seria cômico não fosse trágico.