Um homem de quase sessenta anos passava diante de um edifício chique no Batel. Um jovem de terno, camisa branca e gravata estava diante do edifício com as duas mãos uma em cada bolso da calça. Sapatos pretos engraxados. O homem parou e olhou o jovem e perguntou: “Você é filho do Dionísio?”. O jovem olhou o homem meio desconfiado e disse: “O nome do meu pai é Dionísio”. O homem disse: “Você é a cara dele. Eu fui amigo de seu pai”.

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O homem perguntou: “E por onde anda seu pai, rapaz?”. O jovem continuou desconfiado, mas respondeu: “Meu se separou de minha mãe faz tempo e foi para a Hungria. Ele estudou física e hoje dá aulas em Budapeste”. O homem se espantou: “Dionísio está em Budapeste? Que coisa!”. O jovem tirou a mão direita do bolso e levou ao nariz para coçar, mas o homem achou que foi apenas um cacoete nervoso. A verdade era que o jovem continuava desconfiado porque recuou dois passos.

O homem queria saber mais sobre Dionísio. Ele disse: “O seu pai era um sujeito muito bacana. Nós fomos muito amigos”. O jovem respondeu: “Olha, eu não posso ficar conversando com o senhor. Eu trabalho neste prédio. O senhor entende?”. O homem entendia. O jovem podia perder o emprego se o chefe dele o visse conversando com um estranho. Afinal, neste tempo de violência, um homem de quase sessenta anos pode ser ladrão ou assassino.

O jovem disse: “Eu sou casado e tenho dois filhos, o senhor entende?”. O homem entendeu. Se ele perdesse o emprego, nesta crise é difícil achar outro. E com dois filhos e mulher são quatro pessoas precisando de um salário. O jovem virou as costas e entrou no edifício e o homem disse, agora para ele mesmo: “Eu fui muito amigo do Dionísio. Ele era um cara muito bacana”. E balançou a cabeça: “O Dionísio fez física e dá aulas em Budapeste? Que coisa!”.

O homem continuou andando pela calçada. O jovem agora estava na guarita e um homem mais velho se aproximou: “Quem era aquele homem com quem você conversava na calçada?”. O jovem respondeu: “Ele disse que era amigo de meu pai. Ele falou até o nome dele. Parece que ele queria conversar comigo”.

O homem que parecia ser o chefe do jovem disse: “Você está aqui para proteger o edifício e não para conversar. Além disso, desconfie de tudo e de todos”. O jovem disse sim, o homem se afastou e o jovem ficou olhando a calçada pensando em seu pai. O que ele estava fazendo agora em Budapeste, além de dar aulas de física? Ele não sabia.

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