Mulher gosta de atenção e de exclusividade, embora algumas não retribuam a mesma moeda. Mas esta é outra história. Porque os homens também não. No Dia dos Namorados então, nem se fala. Dia de atenção redobrada, como dirigir numa noite de chuva. Qualquer vacilo vira tragédia, algumas sem conserto. Agora, Dia dos Namorados num dia de jogo de futebol, abertura de Copa do Mundo, no Brasil e jogo do Brasil. Para com isso! Nem praga de bruxa da República Checa seria tão malvada. Por falar em Praga, ela é conhecida como “a cidade das cem cúpulas”. E para azedar o humor das garotas, ontem fez belo dia de sol em Curitiba.

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Claro que namoradas e esposas não chegaram ao ponto de sair nas ruas quebrando tudo com cartazes do tipo: “Se tiver Copa não terá cópula!”. Não foi assim. Mas teve garota nervosa. Encontrei uma no ônibus a ponto de explodir. Eu vi expressão de fúria, instinto assassino no rosto e não olhei outra vez. Ela ia descontar em mim: “Que foi? Nunca viu mulher brava, palhaço?”. No mínimo. Alguns pontos adiante subiu outra garota – amiga da nervosinha. Amiga tem direito a perguntas: “Menina, que cara é esta? O que aconteceu?”. Agora eu estava liberado para olhar. Ela estava com corneta amarela na mão. A nervosinha mostrou: “Olha o que o Rodolfo me deu de presente? Uma corneta! Ele disse que era para a gente torcer na hora do jogo. E eu quero corneta? E eu quero ver jogo?”.

Rodolfo pegou pesado. Acho que sacaneou. Que deu corneta para zoar com a garota e depois do jogo ia dar presentinho maneiro. Quer dizer, se não estivesse bêbado e esquecido de que ontem era Dia dos Namorados. A mulher de um amigo era outra que se bobeasse matava o primeiro que encontrasse, desde que não fosse o marido, pois aí ficaria viúva e o estrago seria maior: Djalma chamou os amigos para ver o jogo em casa e escalou Jeine para cuidar do churrasco. “Eu cuido das cervejas”, disse. Àquela altura do campeonato – quero dizer, da Copa do Mundo – Djalma nem lembrava que era Dia dos Namorados. E que esposa é namorada eterna.

Minha amiga Kerolaine, que tem humor ácido e corrosivo, embora as duas coisas me pareçam a mesma, postou no Facebook: “Hoje é o primeiro Dia dos Namorados que será do jeito que o homem quer: futebol, churrasco, cerveja e a mulher torcendo feliz ao lado”. A danada mandou recado: “Aproveitem, porque não vai ter de novo!”. E como ela anda numa fase sarcástica, ainda acrescentou: “E viva o amor eterno que dura menos que os jogos da Copa”. Eu desconfiei que ela não achava a situação confortável. Mas, se isto consola, não foi a única a não gostar da coincidência de datas, embora outras mulheres não se importassem por vários motivos.

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Algumas porque gostam de futebol. Uma amiga disse que não se preocupa com Dia dos Namorados porque Mandrake é um show de atenção todos os dias do ano. Encheu a bola do cara. Com este nome, o cara devia ser mágico. Outras porque estavam sem namorado e para elas era apenas mais um dia como outro – sem namorado. E tinha as que saíram chamuscadas de relacionamento intenso e por bom tempo, enquanto as feridas não cicatrizarem, não querem ouvir falar que existe homem no planeta. Quanto aos homens, eles não ligaram muito porque para eles, quando gostam de uma garota, todo dia é dia de namorar. Assim como todo dia é dia de cerveja e de futebol. E Copa do Mundo é só de quatro em quatro anos.  

Eu desconfio que o comércio ficou chateado com a coincidência de datas do Dia dos Namorados com o da abertura da Copa. Mas a Aninha acha que nem o comércio saiu prejudicado porque ninguém deixou para a última hora, sabendo que o dia de ontem não seria adequado para comprar presentes. “Eu já comprei o meu e vou entregar hoje à noite”, disse ela, com a convicção de que não haveria surpresa – também seria presenteada à noite. De qualquer forma, isto aconteceria depois do jogo entre Brasil e Croácia. Agora, com aquele jogo tenso, sofrido, duvido que muitos sujeitos tivessem energia e emoção para uma noite romântica. Era para tomar calmante, isto sim.

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